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É azulzinho

“Uma baleia jubarte foi vista neste domingo, 25, em Arraial do Cabo”. Acabo de ler no Instagram. Eu não estava em Arraial do Cabo neste domingo, 25. E agora, me dei conta de que este domingo foi 22. Então pode ter sido em qualquer outro domingo que não este. Eu não estava em nenhum arraial nem neste domingo nem no 25. Mas a baleia era linda. Vocês viram? Parece que há uma temporada de baleias no Brasil, também não sabia. E que ela ocorre de junho a setembro. Elas vêm em busca de águas mornas e lugar seguro para terem seus filhotes. Sei lá, fiquei meio emocionada com essa sequência de palavras: arraial, baleia, filhotes, águas mornas.

Uma vez, fui levar minha filhote mais nova no médico, isso faz uns 6 meses. Tinha uma televisão ligada na sala de espera onde fiquei por quase duas horas. Salas de espera com TVs ligadas, assim como restaurantes com TVs ligadas me roubam anos de vida. Detesto. Vai ser sempre um jogo de futebol pela metade ou um programa de notícias trágicas, um sequestro, uma falta, um assalto à mão armada, uma expulsão, um assassinato com fotos da vítima e entrevistas no velório, um gol. Tudo banhado a volume nas alturas ou mute, não sei o que é pior.

Pois nesse dia, na sala de espera da ortopedista da Sofi, passava na TV um documentário sobre baleias. O volume na altura da perfeição, nem tanto ao céu, nem tanto ao mar. Tinha céu e mar de sobra, tudo azulzinho. A nitidez das imagens era aquela mesma dos aparelhos da Fast Shop que você custa a acreditar que existem de verdade. E as baleias pouquíssimo tímidas, só faltava dar tchau para as câmeras. Aquilo me fisgou de uma maneira tão profunda que quem olhasse abaixo de meu pescoço, quase certeza, me flagraria de roupa de borracha. É bonito demais baleia, né?

Contei pra vocês uma vez daquela baleia de 52 hertz, lembra? A baleia mais solitária do mundo? Nunca esqueci dessa história. É que as outras baleias cantam entre 10 e 39Hz. Resultado, ninguém escuta a bichinha. E se escutam, não entendem o que ela fala. Não a tomam por baleia e portanto não se aproximam. As baleias da sala de espera, não. Essas viviam em comunidade, dançavam, conversavam, cantavam, reproduziam. E nem sei qual era a temperatura da água. Tudo isso pra dizer que neste domingo que era 22 e não 25, eu não estava em Arraial do Cabo, não vi a baleia, mas ultimamente tenho me sentido nadando em águas mornas. Ainda que haja uma ou outra corrente geladinha. Tomara que vocês também se sintam assim, compartilhando a mesma frequência com  baleias que nadam por aí. Às vezes vale a pena esperar, minha gente. Boa semana pra vocês

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