- Almocei comida chinesa ontem. Carne com batata imperial e arroz chop suey. Adoro essa palavra. Quando eu era pequena, a gente ia em um restaurante chinês em Boa Viagem que tinha um tanque de carpas e uma pontezinha. Mainha pedia carne acebolada sem cebola e uma porção de batatas fritas pra gente, quase o mesmo gosto da carne com batata imperial. Um dia, meu primo caiu no tanque e eu congelei esse momento na minha cabeça como uma cena chop suey.
Aí ontem, depois do almoço, fui abrir meu biscoitinho da sorte e combinei com as meninas que a gente ia fazer uma pergunta pro biscoito (eu sei, me deixa). Lalá disse que ia perguntar como seria a semana, eu imitei. Meu biscoito veio sem papelzinho dentro. Vocês acreditam? Não é a coisa mais chop suey que podia ter acontecido? Sigo até agora com cheiro de carpa.
- Depois do almoço, fui ver House com a Sofi. House é aquela coisa, né? Você assiste e sai com a sensação de que pode morrer a qualquer momento, tem doença demais nesse mundo e a gente é fraco e cai no buraco, o buraco é fundo acabou-se o mundo. Aí sonhei que acordava com relevos em forma de band-aid por baixo da minha pele. No tronco inteiro e nas duas pernas. Eram do tamanho do band-aid original e estavam posicionados numa perfeição de alinhamento de fazer inveja a qualquer obsessivo do design.
House vinha me atender e dizia que eu estava tentando esconder meus machucados. Eu jurava que não. Ele me perguntava se eu tinha certeza. Eu tentava lembrar do que tinha tirado no biscoito chinês pra responder. Não lembrava por nada. Acordei.
- Vi um moço se estabacar no chão no caminho do consultório. Um cara da minha idade mais ou menos, com calça jeans dobrada no tornozelo, camisa branca bem passada e uma mochila laranja que só não era mais bonita que o tênis que ele calçava. Tudo novo. Tropeçou no próprio pé. Eu ri igualzinho ao dia da queda do meu primo. Mas nem foi engraçado. Não sei por que ri. Ele levantou, olhou bem na minha cara e disse: você sabe com quem está falando? Eu não tinha falado nada, tentei pedir desculpas mas minha voz não saiu. Ele respondeu que tudo bem, também sem som, só com a boca. Na hora me veio o biscoito vazio e me dei conta de que teria sido ainda pior se dentro dele houvesse um papel em branco. Meio como um band-aid que não existe, mas existe, sabe? Sei lá. E vocês? O que esperam da semana?