No coração do Centro Histórico de Rio Branco, às margens do Rio Acre, um edifício de fachada em alvenaria, pintado de amarelo e branco, atravessa décadas como testemunha da transformação da cidade e da vida cultural de gerações de acreanos. O Cine Teatro Recreio, que completou 77 anos de funcionamento em junho de 2025, é muito mais que um espaço físico: é parte da memória afetiva da população e símbolo de resistência e valorização da arte no estado.
A história do Cine Teatro Recreio começa antes mesmo da inauguração oficial como cine-teatro, em 13 de junho de 1948. O prédio já abrigava o antigo Cine Éden, e desde então se tornou um dos mais importantes pontos de encontro cultural da capital acreana.
A preservação da fachada original, mesmo após a reinauguração em 1993 pela Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM), mantém viva a identidade visual e afetiva de um espaço que segue encantando diferentes gerações.
Memórias de um tempo de glamour
A historiadora Iri Nobre, da equipe de patrimônio histórico da FEM, destaca que frequentar o Cine Recreio, nos seus tempos áureos, era um verdadeiro acontecimento social.
“As pessoas vinham muito bem vestidas. Usavam suas melhores roupas porque assistir a um filme ou uma peça aqui era o evento mais importante da semana ou até do mês para muitas famílias”, conta.
Havia filas que ultrapassavam cem pessoas, ansiosas por garantir um dos cerca de 200 assentos disponíveis. A experiência começava antes mesmo de as luzes se apagarem: um alto-falante instalado no topo do prédio tocava a canção “Cisne Branco”, tradicional hino da Marinha do Brasil, anunciando o início das sessões.
As atrações não se limitavam aos filmes. Espetáculos teatrais de companhias vindas da França e de outros países aportavam no Porto da Gameleira especialmente para se apresentar no teatro. Era um tempo de glamour e intensa produção artística.

Revitalização: o papel da FEM
Após anos de funcionamento e algumas décadas de dificuldades, o prédio passou por um processo de revitalização e foi reinaugurado em 1993 pela Fundação Elias Mansour. Desde então, a FEM assumiu a responsabilidade de manter o espaço vivo e aberto ao público, tanto como cinema quanto como palco para apresentações teatrais, ensaios, exposições e eventos culturais diversos.
“Hoje, o Cine Teatro Recreio é muito utilizado pelos grupos de teatro da cidade para ensaios e apresentações. A beleza do espaço, o cuidado com a estrutura e o fato de estar no Centro Histórico tornam o local muito requisitado para eventos culturais”, destaca Iri Nobre.
O trabalho da FEM não se limita à manutenção física. Segundo a historiadora, uma equipe de curadoria, formada por profissionais do cinema local — incluindo premiados como o diretor Sérgio de Carvalho, vencedor do Festival de Gramado com o filme “Noites Alienígenas” —, prepara a retomada de sessões de cinema com uma programação especial.
“Teremos filmes selecionados com muito critério, incluindo produções com forte presença de realizadoras mulheres do Acre, o que reforça nosso compromisso com a diversidade e o fortalecimento da produção local”, explica.

Um espaço de resistência e afetividade
Mais do que um equipamento público, o Cine Recreio representa um elo emocional para muitos moradores da capital. Para a historiadora, trabalhar ali é motivo de realização profissional e pessoal.
“Esse lugar tem uma energia boa, é um espaço de memórias felizes. Aqui, as pessoas foram felizes assistindo a um espetáculo, a um show musical, a um filme com a família. O Cine Teatro Recreio é um lugar de resistência cultural, de preservação da história e de renovação das formas de fazer arte no Acre”, resume Iri Nobre.
Quem quiser acompanhar as atividades do Cine Teatro Recreio pode seguir a Fundação Elias Mansour no Instagram (@fundacaoeliasmansour), onde são divulgadas todas as atualizações sobre sessões de cinema, apresentações teatrais e demais eventos culturais realizados no espaço.
Com colaboração: Isabelle Magalhães