O Departamento de Oncologia do Centro Hospitalar de Chartres, na região de Eure-et-Loir (França), também se especializou em “literatura”.
O vai e vem de médicos e enfermeiros é entrecortado por profissionais com um “uniforme” diferente. A função deles não está relacionada ao objetivo primário de um hospital. O que eles fazem é escrever as biografias de pacientes sob cuidados paliativos. É a última oportunidade que eles têm de contar como viveram e transmitir o seu legado.
“A biografia hospitalar consiste em oferecer aos indivíduos hospitalizados no nosso departamento a oportunidade de contar a sua história e, em seguida, receber, eles próprios ou um ente querido que eles designarem, um livro gratuito sobre a sua vida”, disse à agência France Presse (AFP) a biógrafa Valéria Milewski.
“Eu nunca poderia imaginar que seria uma cuidadora. Foram os médicos que, muito rapidamente, depois de apenas alguns anos, disseram que era cuidado para os seus pacientes e que era cuidado também para eles”, acrescentou ela.
A profissão poderá ser reconhecida na lei do fim da vida, que em breve será submetida a votação no Parlamento francês.
“Quando escrevemos, na verdade escrevemos a melodia do indivíduo. Então, quando as famílias leem o livro, todas nos dizem: ‘Ele está lá, eu posso ouvi-lo, eu posso senti-lo, eu posso vê-lo’. Aqui no departamento tivemos casos de pessoas que diziam: ‘Quando leio o livro da minha mãe, é como se ela me tivesse dado um grande abraço, como se ela ainda estivesse aqui’.”, contou Valéria.
Frédéric Duriez, oncologista do Hospital de Chartres, classifica a atividade como uma parte importante dos últimos momentos de vida dos pacientes.
“O desafio é preservar as memórias e mantê-las vivas. Mas não buscamos a verdade ou um relato completo dos eventos, e se deixarmos algumas coisas fora, não será um grande problema. O livro que permanecerá será o livro do Sr. Fulano de Tal, Sra. Sei-lá-o-quê, que no fim da vida quis reler as coisas e conectar o que queria conectar para si mesma e transmitir o que queria transmitir. A ideia de que possa haver algo na lei para que a biografia possa ser reconhecida como uma forma de cuidado por si só, dentro do âmbito dos cuidados paliativos, seria uma ótima notícia para nós”, declarou o médico.
Por Extra