Em 2025, crianças da zona rural de Bujari, no interior do Acre, continuam tendo aulas em condições precárias, em um espaço improvisado que funcionava como curral. A situação ganhou repercussão nacional após reportagem exibida no programa Fantástico, na noite deste domingo, 8. Sem paredes, piso ou água encanada, o local virou a única alternativa para garantir o direito à educação dos alunos da comunidade do Limoeiro, distante cerca de 10 quilômetros da escola-sede.
A matéria destacou o esforço da professora Graciele Amorim, que atua sozinha nos turnos da manhã e da tarde, e ainda prepara a merenda. Também mostrou a rotina dos estudantes que enfrentam longas distâncias a pé ou a cavalo para chegar à escola, como Janaína Costa, de 16 anos, que cavalga por uma hora até o anexo.
A reportagem ainda visitou a escola-sede, onde encontrou o prédio fechado e em condições precárias: dois dos três banheiros interditados, paredes descascadas, livros sujos e até um ninho de marimbondos no chuveiro. O anexo só foi reaberto após o pedido da própria comunidade, como revelou a coordenadora da rede municipal, Rocilda Gomes, que também é esposa do prefeito da cidade.

Em nota divulgada na noite deste domingo, o governo do Acre, por meio da Secretaria de Estado de Educação e Cultura (SEE), afirmou que a estrutura improvisada foi criada para atender a solicitação dos moradores, uma vez que o transporte até a sede representava risco e distância excessiva. O governo garantiu o envio de professores, materiais e merenda escolar e informou que uma nova unidade está em construção, com previsão de entrega em 40 dias.
“A Escola Estadual Rural Limoeiro ilustra de forma transparente as dificuldades enfrentadas diariamente para garantir o direito à educação em áreas de difícil acesso”, diz a nota. Segundo o governo, atualmente há 420 escolas do campo e indígenas em funcionamento no estado, atendendo cerca de 17% dos alunos da rede estadual.
Ainda de acordo com a nota, o governo investe anualmente cerca de R$ 70 milhões em construção e manutenção escolar, e já entregou 17 novas unidades em 2024, com outras em obras.
O Ministério Público do Acre (MPAC) também se manifestou nas redes sociais. O órgão informou que já havia instaurado procedimento investigativo e cobrado explicações da Secretaria Estadual de Educação sobre a situação denunciada.
Técnicos do Núcleo de Apoio Técnico do MPAC foram acionados para fazer vistorias no local, e o governo estadual tem prazo de cinco dias para apresentar justificativas sobre os motivos pelos quais os alunos não foram transferidos como foi informado anteriormente.
Enquanto isso, as aulas no antigo curral continuam. Como afirmou o secretário de Educação, Aberson de Souza, na reportagem do Fantástico, o calendário precisa ser cumprido: “Um dia de verão é precioso, porque, no inverno, não tem aula.”
Nota do governo na íntegra:
O governo do Acre, por meio da Secretaria de Estado de Educação e Cultura do Acre (SEE), reafirma o seu compromisso com a oferta de educação pública, gratuita e inclusiva, mesmo diante dos grandes desafios logísticos e estruturais que caracterizam a realidade amazônica.
A Escola Estadual Rural Limoeiro, localizada na zona rural de Bujari, ilustra de forma transparente as dificuldades enfrentadas diariamente para garantir o direito à educação em áreas de difícil acesso. Atendendo diretamente à solicitação da própria comunidade, o anexo da escola foi implantado com o objetivo de assegurar que crianças e adolescentes permanecessem próximos de suas famílias, mesmo em localidades isoladas, onde o transporte até a escola sede representaria um risco e uma distância excessiva.
Apesar das limitações físicas do anexo, que funciona em estrutura provisória e com esforço coletivo da comunidade, o Estado assegurou desde o início a presença de professores, materiais didáticos e merenda escolar. Paralelamente, o governo do Estado e a Prefeitura de Bujari firmaram cooperação para a construção de uma nova unidade escolar, já em fase final de obras, com previsão de entrega em 40 dias.
É importante destacar que essa realidade não é exclusiva do Acre, mas reflete os enormes desafios da educação em toda a Amazônia Legal, onde centenas de escolas atendem populações indígenas, ribeirinhas e rurais. Atualmente, o Estado mantém em funcionamento 420 escolas do campo e indígenas, que atendem aproximadamente 17% dos estudantes da rede pública estadual.
Mesmo diante das dificuldades orçamentárias e da arrecadação limitada, o governo estadual investe anualmente cerca de R$ 70 milhões em construção e manutenção escolar. Só em 2024, o Estado já concluiu 17 novas unidades e mantém dezenas de outras em fase de construção ou contratação.
A educação do campo é uma prioridade permanente, e o governo do Acre segue trabalhando, passo a passo, para reduzir desigualdades históricas e garantir, cada vez mais, a presença do professor, da merenda escolar e das estruturas físicas adequadas, respeitando os limites orçamentários e a complexidade logística da Amazônia.
Aberson Carvalho de Sousa
Secretário de Estado de Educação e Cultura do Acre