O município de Mâncio Lima vive um novo capítulo de sua história econômica com a inauguração do maior complexo industrial de café da agricultura familiar da Região Norte. Fruto da parceria entre a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e a Cooperativa de Café do Juruá (Coopercafé), o empreendimento representa um avanço concreto para os pequenos produtores da região — oferecendo tecnologia, valorização do produto local e novas oportunidades de renda.
O Complexo Industrial de Café do Juruá, com mais de 1.600 m² de área construída e estrutura abastecida por energia 100% limpa, foi entregue neste sábado, 28, durante cerimônia que reuniu mais de 40 autoridades e cerca de 3 mil produtores rurais. Com capacidade para beneficiar e rebeneficiar até 20 mil sacas por safra, o complexo já impacta positivamente a vida de centenas de famílias cooperadas.

Segundo a diretora de Economia Sustentável e Industrialização da ABDI, Perpétua Almeida, o projeto materializa a proposta da Nova Indústria Brasil (NIB), ao unir inovação tecnológica, inclusão produtiva e sustentabilidade. “Estamos industrializando a produção do café da agricultura familiar. Isso significa mais renda, mais dignidade e mais autonomia para quem planta. É um marco para a bioeconomia e para o cooperativismo na Amazônia”, afirmou.
A iniciativa recebeu R$ 10 milhões em investimentos — sendo R$ 8 milhões da ABDI e R$ 2 milhões da Coopercafé, que reúne mais de 180 cooperados. De acordo com estimativas da Federação das Indústrias do Ceará (FIEC), já foram gerados cerca de 2 mil empregos diretos e indiretos, além de um aumento de 31% na renda dos agricultores e crescimento de 44% na arrecadação municipal.

Para o produtor rural Orlenilson Viana, o complexo industrial é uma virada de chave. “Esse era um sonho distante. Hoje a gente vê o nosso café ganhando qualidade, valor e mercado. Podemos fazer desde o grão comum até o café especial, com padrão e rastreabilidade. Só temos a ganhar”, disse.
A cooperada Raimunda Antunes da Silva também vê na iniciativa uma revolução silenciosa. “Antes, nosso café era vendido a preços baixos, sem valor agregado. Agora, ele sai daqui embalado e pronto para o mercado. Isso mudou minha vida. Hoje, sou agricultora e empreendedora, com orgulho”, contou emocionada.
A industrialização do café é feita de forma ambientalmente responsável: com uso de energia solar, reuso da água da chuva e lenha certificada, sem desmatamento de novas áreas — o plantio é feito em áreas degradadas.
O presidente da Coopercafé, Jonas Limas, enxerga o complexo como referência para o estado. “É uma ferramenta concreta para quem trabalha na roça. Mais de 90% dos nossos cooperados são da agricultura familiar. Esse projeto é sobre empoderar quem está no campo”, afirmou.

O impacto regional também foi destacado pelo analista da ABDI Eduardo Tosta, responsável pela execução do projeto. “A renda média dos cooperados subiu 30% em apenas um ano. A previsão para os próximos dois anos é de dobrar a receita de Mâncio Lima, graças ao efeito em cadeia do complexo. É um projeto que transforma a base da economia local”, declarou.
Além de beneficiar diretamente a agricultura familiar, o complexo posiciona o café acreano em outro patamar de mercado, ampliando o acesso a nichos de maior valor agregado e oferecendo condições reais de competitividade.
O evento de inauguração contou com a presença de prefeitos, deputados, vereadores, representantes do Governo Federal e da Assembleia Legislativa do Acre, que concedeu à diretora Perpétua Almeida a Moção de Aplauso e o título de cidadã manciolimense — honrarias também estendidas a Eduardo Tosta.
O secretário de Agricultura do Estado, Luis Tchê, resumiu o momento: “Esse projeto é prova de que quando governo, cooperativas e produtores se unem, o resultado aparece. Estamos mostrando ao Brasil que o Acre sabe produzir, com qualidade, responsabilidade e inclusão social”.
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