Chocantes as imagens das crianças subnutridas em Gaza. Israel continua bombardeando e atirando, mas parece que sua arma preferida, na atual etapa de sua ofensiva pelo extermínio do povo palestino, é a fome.
As armas se combinam, aliás, como mostram as cenas recorrentes de soldados israelenses fuzilando pessoas nas filas da precária distribuição de alimentos.
A situação da Palestina, digo da Palestina inteira, porque, embora em Gaza a chacina esteja mais explícita, há uma escalada de violência também na Cisjordânia ocupada e contra os palestinos no território atribuído a Israel – emerge lentamente diante da opinião pública mundial como similar à da África do Sul no final do século XX. Caminha-se para uma condenação unânime de um regime percebido como desumano e imoral.
No caso da África do Sul, a principal fonte de resistência à condenação do regime vem do grande capital, para quem não existe limpeza étnica, violação de direitos humanos ou mortandade de crianças, apenas oportunidades de negócios.
Lembram da “visão” de Donald Trump, que queria erguer, dos destroços de Gaza, um resort para milionários às margens do Mediterrâneo? Pois o jornal Financial Times revelou que os planos estão a todo vapor, unindo investidores de peso e um think tank liderado pelo ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair – sim, aquele, que durante certo tempo quis mostrar ao mundo que a esquerda “moderna” devia ser de direita e que o capitalismo selvagem era o futuro da civilização.
E temos todas as grandes empresas envolvidas no genocídio, fornecendo armas, veículos, softwares, suprimentos. A corajosa relatora especial das Nações Unidos para os territórios palestino ocupados, Francesca Albanese, apresentou um mapeamento compreensivo destes negócios. Nele, a Microsoft, do bilionário “humanitário” Bill Gates, aparece com destaque.
Também como no caso da África do Sul, os Estados Unidos são um obstáculo para uma solução humanitária. Antes, porque o regime racista – além de proporcionar bons negócios para as empresas estadunidenses – era visto como um aliado confiável na disputa com a União Soviética pela hegemonia mundial. Hoje, porque Israel é como se fosse um enorme porta-aviões que o Pentágono ancorou em uma região estratégica, ao lado da Península Arábica.