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Como foi a clonagem da ovelha Dolly, que abalou o mundo em 1997

Como foi a clonagem da ovelha Dolly, que abalou o mundo em 1997

Clonada em 1997, Dolly marcou o início de uma nova era da genética. Saiba mais sobre seu nascimento e legado — Foto: Wikimedia Commons

Quem estava vivo em 1997 lembra: o nascimento da ovelha Dolly foi um dos maiores anúncios da ciência moderna. O assunto permaneceu na imprensa por meses, levantando uma questão irresistível: se a ciência agora era capaz de clonar animais, quanto tempo levaria para conseguir clonar pessoas?

Muito tempo, pelo jeito, já que ainda não aconteceu e não há previsão para isso. Mas o caso da ovelha Dolly é fantástico por si só: foi a primeira clonagem de um mamífero por meio da técnica de transferência nuclear, que é quando o núcleo de uma célula doadora é inserido em um óvulo cujo núcleo foi removido. Essa técnica já havia sido testada com sucesso em anfíbios, mas em mamíferos, que são animais com reprodução e desenvolvimento mais complexos, ainda não.

Em geral, as tentativas de clonagem eram feitas com células embrionárias, por serem ainda muito jovens e com o potencial de virar qualquer tipo de célula do corpo. O uso de células adultas era muito mais desafiador.

A equipe do Instituto Roslin, liderada pelo geneticista escocês Ian Wilmut, foi quem desenvolveu a técnica que obteve sucesso para clonar uma ovelha a partir de células adultas. Sua ideia era “reprogramar” o núcleo da célula adulta para que ela voltasse ao estado embrionário, permitindo o desenvolvimento de um organismo completo. No caso, utilizou-se o núcleo de uma célula da glândula mamária de uma ovelha adulta, que foi inserido em um óvulo sem núcleo.

O programa começou em 1995, e os cientistas levaram aproximadamente 1 ano e 276 tentativas fracassadas até que Dolly fosse enfim criada, a tentativa 277 e a única bem-sucedida. O óvulo com o núcleo emprestado virou um embrião que, por sua vez, foi colocado em uma terceira ovelha que serviu de “barriga de aluguel”. Dolly foi nomeada em homenagem à cantora Dolly Parton, conhecida por seu busto farto, pois a célula veio da glândula mamária.

O anúncio da clonagem de Dolly foi feito em fevereiro de 1997 na revista científica Nature, causando um grande impacto na comunidade científica e na sociedade. A clonagem de um mamífero adulto, resultando em um indivíduo saudável, comprovou que a diferenciação celular poderia ser revertida, mudando paradigmas da biologia do desenvolvimento. Em março, Dolly foi mostrada à imprensa pela primeira vez, gerando o frisson da mídia, um interminável debate sobre a ética da clonagem e muita apreensão sobre o futuro.

A experiência também inspirou a autora Gloria Perez a escrever a novela O Clone, que se tornou sucesso na Rede Globo em 2001. “O ponto de partida foi a ovelhinha Dolly. Se era possível clonar uma ovelha, não seria possível clonar um ser humano? Quis falar dos conflitos de identidade inerentes a uma experiência assim. Como se sentiria uma pessoa feita em laboratório como cópia de outra?”, contou a autora em uma entrevista.

Depois de Dolly, diversos animais foram clonados com a mesma técnica, como vacas, cabras, porcos, gatos, coelhos, cavalos e macacos. Mas os experimentos sempre foram alvos de críticas, especialmente porque o processo é caríssimo, demorado, tem alta taxa de falhas (muitos embriões não sobrevivem), causa sofrimento animal (muitos embriões nascem com problemas graves de saúde) e não gera diversidade genética, que é essencial à sobrevivência de qualquer espécie.

Para a ciência, os clones ajudam a entender como a reprogramação celular funciona, ou seja, como uma célula adulta pode voltar ao estado inicial e formar um novo organismo. Também permitem estudar genes específicos, já que clones têm o mesmo DNA do animal doador. Para além desse tipo de pesquisa, a técnica também pode ter valor na preservação de espécies ameaçadas (clonando os indivíduos remanescentes) e no xenotransplante (clonar porcos para criar órgãos que possam ser transplantados em humanos), entre outros.

Mas a maior contribuição de Dolly à ciência foi a técnica da clonagem terapêutica, desenvolvida a partir do conhecimento gerado em sua criação. Esse método utiliza o mesmo princípio de transferência nuclear para criar embriões, mas, em vez de serem destinados a gerar um novo ser, eles são voltados a produzir células-tronco compatíveis com o doador. Essas células-tronco podem ser usadas para regenerar tecidos ou tratar doenças degenerativas, como Parkinson, diabetes e lesões medulares. Além disso, elas eliminam o problema de rejeição que ocorre em transplantes comuns, já que as células são geneticamente idênticas às do próprio paciente.

Dolly teve um filhote: um cordeiro saudável chamado Bonnie, que provou que clones poderiam se reproduzir normalmente, dissipando alguns temores iniciais. Aos seis anos, em 2003, Dolly foi sacrificada por estar com uma doença pulmonar progressiva e artrite. Embora sua longevidade estivesse dentro do esperado para ovelhas da mesma raça, muitos especialistas levantaram suspeitas sobre possíveis problemas de saúde relacionados à clonagem.

Hoje, o corpo de Dolly está embalsamado e em exibição permanente no Museu Nacional da Escócia, em Edimburgo (como você viu na foto acima).

Por: Revista Galileu

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