Se até os anos 2000, para realizar transplantes capilares era preciso retirar grandes áreas do couro cabeludo, as últimas duas décadas trouxeram inovações que redefiniram os padrões de precisão e segurança. Em um estudo de revisão publicado no Journal of Cutaneous and Aesthetic Surgery, pesquisadores indianos sustentam que o setor vive, agora, uma nova era, impulsionada por abordagens menos invasivas, com destaque para ferramentas de extração dos fios em formato de caneta.
Esses dispositivos permitem a retirada individual dos fios da área doadora para serem implantados, depois, na região que receberá o cabelo. Assim, há melhora na qualidade dos enxertos e recuperação mais rápida, ressaltam os autores, do Deparamento de Dermatologia do DermaClinix, um centro de pesquisa clínica em Nova Déli.
“Essas canetas são aparelhos modernos que podem ajustar o tipo de movimento, como rotação, oscilação e vibração, conforme a necessidade da pele, se ela é mais oleosa ou seca, a textura e a espessura do fio para removê-lo”, explica Julio Pierezan médico tricologista, especializado em cirurgia de transplante capilar e pós-graduado em dermatologia. De acordo com o especialista, que é membro da Sociedade Brasileira do Cabelo (SBC), da International Society of Hair Restoration Surgery (ISHRS) e da World FUE Institute, o folículo extraído fica muito mais preservado para ser implantado na área receptora.
Segundo Pierezan, as canetas extratoras, citadas no estudo, contribuem para o bom resultado do transplante, pois o risco de se danificar os folículos é reduzido. “Sem contar que esses dispositivos agilizam a retirada dos fios, a área doadora também sofre menos, inclusive com o sangramento, que acaba sendo menor. As cicatrizes ficam praticamente imperceptíveis”, diz.
No artigo indiano, os autores descrevem o uso das canetas para a realização do transplante pela técnica Follicular Unit Extraction (FUE). O procedimento é recomendado para quem sofre com a alopecia androgenética (calvície), um problema que leva o paciente à perda local ou difusa dos fios ao longo dos anos. Também pode ser realizado nos casos de alopecias autoimunes, como a areata, que surge de forma repentina, produzindo falhas, como buracos, no couro cabeludo. Outras indicações são correção de cicatrizes e implante em regiões onde o tratamento clínico não surtiu efeito.
Uma das inovações da técnica FUE é o chamado Fue Long Hair, que dispensa a raspagem do cabelo. “Assim como na técnica tradicional, o transplante Fue Long Hair consiste na transferência de unidades foliculares, onde está localizada a raiz dos cabelos, de uma região saudável, chamada de área doadora, para locais afetados pela doença capilar. Mas o grande diferencial é que, agora, essas unidades foliculares podem ser coletadas sem a necessidade de raspar o cabelo, preservando o comprimento e a aparência natural dos fios da área doadora”, explica o Danilo S. Talarico, médico professor de Cirurgia Capilar, Dermatologia e Tricologia.
Inteligência artificial
Segundo os autores do artigo de revisão publicado no Journal of Cutaneous and Aesthetic Surgery , ainda há muito o que avançar nos transplantes capilares. Para o dermatologista Amrendra Kumar, autor correspondente do estudo e cirurgião do Instituto de Ciências Médicas da Índia, o futuro do procedimento está na integração de robótica e inteligência artificial aos sistemas de FUE.
“O uso de algoritmos capazes de identificar a melhor unidade folicular e de realizar cortes ultrafinos, ajustados em tempo real, promete reduzir ainda mais os riscos de erro humano e acelerar os procedimentos”, argumenta Kumar. “A próxima fronteira é a cirurgia guiada por sensores táteis e inteligência artificial.”
O pesquisador esclarece que alguns sistemas robóticos já estão em operação, como o Artas, que utiliza câmeras de alta definição e análise automatizada para selecionar e extrair folículos com precisão quase microscópica. A tendência é que, nos próximos anos, esses equipamentos se tornem mais acessíveis e adotados mais amplamente pelos cirurgiões, acredita Kumar.
O médico Julio Pierezan reforça, porém, que os avanços tecnológicos não significam que os transplantes são isentos de riscos. “Apesar de ser considerado um procedimento seguro e de baixo risco, a técnica FUE envolve anestesia local, tempo prolongado de intervenção e, em alguns casos, medicações específicas no pós-operatório”, diz.
O tricologista lembra que, antes de se submeter à técnica, é preciso passar por diversas avaliações. “A área receptora deve estar livre de quaisquer condições, como foliculite, psoríase ou câncer de pele. E é extremamente importante que o paciente faça exames laboratoriais e cardiológicos.”
Cuidado contínuo
Mais do que apenas remover e implantar fios, o sucesso do resultado depende também da preservação da viabilidade do folículo, do controle da angulação, da naturalidade. Então, quando a gente associa tecnologia na extração, permitindo ter um controle melhor dessa extração e implantação com o uso dessas canetas implantadoras, temos um resultado e recuperação muito melhores. É importante lembrar que o transplante é uma das etapas do tratamento da calvície. O acompanhamento no pós-operatório é tão importante quanto a cirurgia. A gente sabe que a calvície não é uma doença que tem cura, mas uma condição genética que tem controle. O único jeito de controlar é com medicação. No transplante de cabelo, colocamos cabelo onde se perdeu. Mas, se não seguir controlando a calvície, os fios nativos continuam a afinar.
Por: Correio Braziliense