Cientistas da Universidade John Moores de Liverpool e do Instituto Francis Crick, ambos na Inglaterra, conseguiram realizar algo incrível: extrair e sequenciar o DNA do homem egipcio mais antigo já registrado e reconstruir seu rosto. De acordo com a datação, ele viveu entre 4,5 e 4,8 mil anos atrás. O estudo com as descobertas foi publicado nessa quarta-feira (2/7) no periódico Nature.
Segundo os pesquisadores, o homem viveu em uma época de transição da história egípcia, entre a Época Tinita, a das primeiras dinastias, e o Antigo Império, uma fase marcada pela construção de grandes pirâmides, como as de Gizé.
O corpo do homem foi escavado em 1902, em uma tumba do sítio arqueológico de Nuwayrat, cerca de 265 km ao sul de Cairo, a capital do Egito. Posteriormente, o Serviço de Antiguidades Egípcias doou o achado ao Museu de Liverpool, na Inglaterra.
O que foi encontrado na análise dos pesquisadores?
Com o esqueleto em mãos, os cientistas conseguiram utilizar estruturas e marcas para estimar sexo, idade, altura e informações sobre o estilo de vida.
A ossada era de um homem e nele havia sinais de movimentos repetitivos, além de uma artrite significativa no pé direito.
As pistas sugeriram que o egípcio poderia ter sido um oleiro – um artesão que molda peças de cerâmica utilizando barro.
Apesar de exercer um trabalho braçal, um fato chamou a atenção dos pesquisadores: o homem foi enterrado em um elaborado vaso de cerâmica. Isso indica que ele poderia ser uma pessoa muito respeitada por seu trabalho ou socialmente elevada.
“Seu enterro de classe alta não é esperado para um ceramista, que normalmente não receberia tal tratamento. Talvez ele fosse excepcionalmente habilidoso em sua atividade ou teve sucesso na promoção de seu status social”, revela um dos autores do artigo, Joel Irish, professor da Universidade John Moores de Liverpool, em comunicado.

Dente preserva DNA
Para extrair e analisar o DNA da ossada, os estudiosos contaram com a ajuda de um dente bem preservado do homem. A conservação desse tipo de material genético é raro em regiões quentes como o Egito.
A partir do sequenciamento do genoma, os pesquisadores tiveram mais pistas sobre a vida e ancestralidade do homem e descobriram que ele cresceu no Egito, porém 20% de seu DNA estava ligado a populações do Oriente Médio, principalmente do Crescente Fértil – região da antiga Mesopotâmia e atual Iraque.
A descoberta é a primeira comprovação genética que houve miscigenação entre egípcios e povos do Crescente Fértil, o que coincide com o período de intensas trocas comerciais e culturais entre as duas regiões.
“Novas e poderosas técnicas genéticas nos permitiram cruzar fronteiras, fornecendo a primeira evidência genética de potenciais movimentos de pessoas no Egito nesta época”, finaliza o coautor do estudo, Pontus Skoglund.
Por: Metrópoles