Depois de ser recebida pelo prefeito Adailton Fúria, a equipe da Secretaria Municipal de Saúde de Rio Branco (AC) visitou, nesta sexta-feira (4), o Hospital Municipal Materno Infantil de Cacoal (RO) e a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Pediátrica da cidade. A missão: conhecer de perto um modelo de cuidado materno-infantil que tem transformado a vida de milhares de famílias com estrutura humanizada, soluções criativas e gestão eficiente — tudo desenvolvido com recursos próprios do município.
O Hospital, que foi recentemente reinaugurado e ampliado, é hoje um símbolo regional de como planejamento técnico, sensibilidade e compromisso público podem caminhar juntos. Ao todo, são 21 leitos distribuídos entre enfermaria, berçário, obstetrícia e centro cirúrgico, além de novos serviços criados do zero.
A estrutura atual é fruto de uma reestruturação total para combater um problema grave: a alta mortalidade materna. “A gente começou tudo do zero. Não dava mais pra ver mães e bebês morrendo por falta de estrutura”, conta o diretor do hospital, Célio Roberto Candil. Com voz serena, mas firme, ele narra como a gestão municipal deu um passo corajoso: não apenas reformar, mas redefinir completamente o que se entendia por atenção à saúde da mulher e da criança.
Entre os novos serviços implementados estão o Creame — uma unidade voltada exclusivamente ao acompanhamento de gestantes de alto risco —, uma unidade neonatal equipada e funcional, e a UPA Pediátrica de Cacoal, que realiza de 300 a 400 atendimentos infantis por dia.
Mas o que mais chamou a atenção da equipe acreana foi o cuidado com os detalhes que fazem a diferença na vida das crianças. O hospital criou, por exemplo, salas separadas e adaptadas para pacientes autistas, com iluminação e sonoridade controladas, respeitando o conforto sensorial de cada criança. Além disso, menores vítimas de violência não precisam mais ser levadas a delegacias para passar por perícia médica: o hospital conta com a presença do médico legista no próprio espaço, evitando novos traumas.
Toda essa estrutura foi concebida e construída com recursos próprios da prefeitura de Cacoal. “A gente economizou porque a obra foi feita com a própria equipe da gestão municipal. Isso nos permitiu pensar cada detalhe com cuidado e também reduzir muito o custo final”, explica Célio. Segundo ele, o custo estimado para replicar uma UPA como a de Cacoal, considerando que o prédio já exista, seria entre R$ 1,5 e R$ 2 milhões — valor considerado baixo frente aos impactos gerados.
Para a comitiva de Rio Branco, que incluiu técnicos da saúde e o enviado especial Juracy Nogueira, a visita representa mais do que uma inspiração: é o esboço de um futuro possível para a capital acreana. Hoje, Rio Branco ainda não conta com uma estrutura semelhante, o que torna essa experiência um possível marco para a saúde pública no estado.
O secretário municipal de Saúde, Rennan Biths, destacou a relevância da visita. “Conhecer o trabalho feito em Cacoal nos inspira profundamente. É uma estrutura que cuida das pessoas com respeito e sensibilidade, além de mostrar que a boa gestão pública é capaz de transformar realidades com planejamento e dedicação. Levar essa inspiração para Rio Branco é nosso compromisso.”
A visita integra uma agenda técnica iniciada em Ariquemes, também em Rondônia, e que segue com o objetivo de identificar boas práticas no SUS que possam ser adaptadas à realidade de Rio Branco. Mas se em Ariquemes os olhos se voltaram para a digitalização e os sistemas integrados, em Cacoal, o que tocou a equipe foi o lado humano da gestão: a escuta das dores silenciosas, o acolhimento das diferenças e o compromisso com a dignidade no momento mais sensível da vida — o nascimento e o cuidado com quem cuida.
Em Cacoal, a saúde se tornou um espaço de empatia e transformação. Agora, cabe a Rio Branco transformar essa experiência em um ponto de virada. Porque bons exemplos não são apenas para serem elogiados — são para serem seguidos.