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Opinião: Filhos da Borracha e Netos do Sertão: uma memória entre o Ceará e a Amazônia

A Gazeta do Acre por A Gazeta do Acre
18/07/2025 - 11:50
Opinião: Filhos da Borracha e Netos do Sertão: uma memória entre o Ceará e a Amazônia
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*Por Juciele Belchior

Meu esposo e eu levamos nossos quatro filhos a Fortaleza.

Não era só uma viagem de férias. Era um reencontro. Um retorno. Um chamado que me atravessava havia tempo. Entre as ruas da capital e as estradas do interior, entre visitas a parentes e almoços cheios de histórias, algo em mim se movimentava. Durante aquela viagem, fui sendo tomada por uma travessia interna — de silêncio, de escuta, de imaginação e memória.

Parei. Olhei. Recolhi fragmentos de vozes antigas. Me perguntei sobre a vida dos meus antepassados que, saindo daquela mesma terra quente e seca, atravessaram milhares de quilômetros rumo à floresta amazônica. Como era o caminho? O que deixaram para trás? Como seguiam sem saber se voltariam?

Cada vento quente, cada paisagem de mandacaru e cerca torta, me fazia imaginar a distância percorrida, o choque entre mundos — do sertão ao seringal. Aquilo não era só uma visita. Era um mergulho. E foi ali que este texto nasceu: como uma tentativa de costurar passado e presente, sertão e selva, ausência e permanência.

Enquanto o mundo fala da guerra na Ucrânia, eu sigo pensando nas guerras que o Brasil escondeu. Guerras sem tanque, sem drone, sem manchete internacional. Guerras travadas nas entranhas da floresta, nas barrancas dos rios, no silêncio forçado de um povo que lutou sem nunca ser reconhecido.

Essa travessia entre o Ceará e minha cidade natal, Boca do Acre, reacendeu em mim o desejo de escrever sobre os soldados da borracha — tema já abordado com dignidade e beleza por muitos escritores e estudiosos no Acre, mas ainda tão pouco narrado no sul do Amazonas, onde nasci e onde essa guerra silenciosa também deixou marcas fundas.

É o passado dos soldados da borracha — homens e mulheres arrancados do sertão, da catinga, da fome, pra desbravar a Amazônia no auge da Segunda Guerra Mundial.

Enquanto o Brasil se aliava aos Estados Unidos, mais de 60 mil nordestinos foram enviados aos rincões do Acre e do sul do Amazonas. Chamaram eles de heróis, prometeram terra, dignidade, futuro. Mas o que encontraram foi floresta fechada, doença, patrão cruel, abandono.

Vieram do Limoeiro, do Crato, de Quixadá, de Juazeiro do Norte. Vieram com filhos no colo, com a mão vazia e o peito cheio de esperança. Foram levados em caminhões — paus de arara —, em navios, em canoas. Quando chegaram, tinham que cortar seringa dia e noite. Sem descanso. Sem trégua. Porque a borracha era o que movia a guerra — e eles eram os que moviam a borracha e tinham uma conta impagável com os donos de barracões.

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Saíram do pó seco do sertão e pisaram na lama pegajosa da floresta. Trocaram o silêncio do vento quente pelo barulho constante das cigarras, do rio, dos bichos da mata. O corpo estranhava. O espírito, mais ainda.

Era uma guerra silenciosa. Sem exército. Mas com soldados. Soldados nordestinos. Soldados invisíveis. Soldados da borracha.

Muitos ficaram por lá. Nunca voltaram. Nunca reencontraram a mãe, o pai, os irmãos que deixaram no sertão. Fincaram raiz em Boca do Acre, em Xapuri, em Brasileia, em Rio Branco. E hoje, muita gente do Acre e do sul do Amazonas — talvez tu que estás lendo isso agora — é descendente desses heróis silenciosos.

Eu sou. Meu bisavô, Edeltrude, saiu do Limoeiro, no Ceará, e foi pro meio da selva. Casou com uma amazonense, e foi assim que minha família nasceu. Eu nasci em Boca do Acre. Eu sou feita dessa travessia. Dessa migração forçada. Dessa esperança rasgada que ainda pulsa no sangue.

Hoje, enquanto os olhos do mundo se voltam pra guerra na Europa, eu olho pro chão rachado do sertão e penso: nós também tivemos a nossa guerra. E ela ainda não acabou. Porque até hoje, os soldados da borracha seguem esquecidos. Seus filhos e netos seguem lutando — por reconhecimento, por memória, por dignidade.

Escrevo esse texto com o coração apertado, mas também com orgulho. Porque ser descendente de nordestinos é carregar no coração a história de quem nunca teve escolha, mas nunca deixou de lutar.

Que a gente não esqueça.
Que a gente conte essa história.
Que toda vez que falarem de guerra, tu lembres da nossa.

A guerra dos invisíveis. A guerra da sobrevivência.
A guerra que forjou o Acre e o sul do Amazonas com sangue nordestino.

E quando alguém me perguntar de onde eu venho, eu vou responder sem medo:

Eu venho do sertão.
Eu venho das barrancas do rio Acre e rio Purus.
Eu venho da memória dos que cortaram seringa em silêncio.
Eu venho da guerra que poucos, no Amazonas, tiveram a sensibilidade — e a coragem — de escrever.

Foram poucos, sim. Mas existiram.
Escritores como Sávio Luiz, autor do comovente texto “Do sertão à floresta”, que com rara beleza poética narra os contrastes de quem migrou da catinga sedenta para os seringais úmidos e sombrios da Amazônia. Entre a poeira quente do chão rachado e a lama espessa dos igarapés, o que liga esses mundos é o passo de quem anda. De quem resiste.

É por isso que hoje eu escrevo.
Pra que esse passado não vire silêncio.
Pra que a história dos que vieram antes de nós continue viva.
E pra que o Brasil — esse país de tantas guerras não contadas — saiba que ali, entre seringueiras e mandacarus, nasceu também um povo que merece ser lembrado.

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