Um estudo da Universidade Hebraica de Jerusalém verificou que o calor extremo reduz a produção de leite em até 10% e o pior: as tecnologias de resfriamento compensam apenas cerca de metade dessa perda. A causa da queda está associada às mudanças climáticas. Os pesquisadores constataram que, sem o resfriamento, os 10 maiores produtores de leite no mundo podem ter uma queda média de 4% por dia. Brasil, Índia e Paquistão, três dos cinco maiores, registram perdas maiores do que Israel: entre 3,5% e 4% por vaca por dia. Esses países também são os que mais se beneficiam do resfriamento. E, mesmo com o sistema, Estados Unidos e China ainda registram perdas diárias entre 1,5% e 2,7%.
A pesquisa publicada na revista Science Advances ressalta que os efeitos das temperaturas elevadas sobre as matrizes podem durar por mais 10 dias, recomendando que os animais sejam mantidos em ambiente resfriado e com temperatura agradável — em torno de 4ºC a 24ºC. “Os formuladores de políticas devem buscar mais estratégias não apenas para resfriar as vacas, mas também para reduzir fatores estressantes, como o confinamento e a separação dos bezerros. Os fatores estressantes tornam as vacas mais sensíveis ao calor e menos resilientes”, afirmou a autora principal Claire Palandri, pesquisadora de pós-doutorado na Harris School of Public Policy.
Para Eyal Frank, professor assistente da Harris School of Public Policy, coautor da pesquisa, as mudanças climáticas terão impactos abrangentes sobre a comida e a bebida em geral. “Nosso estudo constatou que o calor extremo causa impactos significativos e duradouros na oferta de leite, e mesmo as fazendas mais avançadas em tecnologia e com mais recursos estão implementando estratégias de adaptação que podem não ser suficientes para lidar com as mudanças climáticas.”
Frank e os demais coautores Claire Palandri, Ayal Kimhi, Yaniv Lavon, Ephraim Ezra e Ram Fishman estudaram a indústria de laticínios em Israel, considerada como um sistema avançado de produção de leite e analisaram dados climáticos locais para medir o impacto do calor úmido em mais de 130 mil vacas leiteiras ao longo de 12 anos. Em seguida, entrevistaram mais de 300 produtores de leite para verificar o quanto as tecnologias de resfriamento ajudaram.
Descoberta
A equipe de pesquisadores descobriu que a produção de leite diminuiu significativamente em dias quentes e úmidos — em até 10% quando as temperaturas de bulbo úmido (medida importante para avaliar as condições ambientais e seus impactos na saúde) ultrapassaram 26°C. As temperaturas de bulbo úmido combinam informações sobre a temperatura de bulbo seco (a temperatura do ar ambiente) e a umidade. A mesma temperatura do ar ambiente parece muito diferente em dias secos ou úmidos para pessoas e vacas. Quando as vacas são expostas a esse calor úmido, frequentemente chamado de condições de “banho de vapor”, leva mais de 10 dias para que a produção de leite volte aos níveis normais.
Apesar de quase todas as fazendas pesquisadas terem adotado tecnologias de resfriamento, esses esforços de adaptação compensaram apenas 40% das perdas. Ainda assim, os pesquisadores acham que vale a pena instalar equipamentos de resfriamento, já que os agricultores conseguem recuperar os custos de instalação do equipamento em cerca de um ano e meio.
“Os produtores de leite estão bem cientes dos impactos negativos que o estresse térmico tem sobre seus rebanhos e utilizam diversas formas de adaptação”, afirma o coautor Ayal Kimhi, professor associado da Universidade Hebraica de Jerusalém e vice-presidente da Instituição Shoresh de Pesquisa Socioeconômica . “A adaptação é custosa, e os produtores precisam equilibrar cuidadosamente os benefícios que obtêm com os custos. É por isso que vemos algum investimento em medidas de resfriamento, mas não um isolamento completo das vacas de seu ambiente, o que seria muito custoso para implementar.”
Por: Correio Braziliense