As canetas emagrecedoras estão entre as novidades mais recentes da medicina, incluindo o Mounjaro – nome comercial da substância tirzepatida – que vem mostrando resultados promissores tanto no controle da glicemia quanto na perda de peso.
O que é o Mounjaro?
O medicamento injetável pertence a uma nova classe de fármacos conhecidos como agonistas duplos dos receptores GIP e GLP-1 e pode ser usado em casos de obesidade e diabetes tipo 2, sendo esta a primeira finalidade, explica a endocrinologista Yohanna Luize Soares, que atua no tratamento de obesidade, diabetes e distúrbios hormonais.
“Isso significa que ele age em dois hormônios produzidos no intestino, o GIP, polipeptídeo inibidor gástrico, e o GLP-1, peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1. Esses hormônios atuam regulando a secreção de insulina, o apetite, o esvaziamento gástrico e, consequentemente, o metabolismo da glicose e a saciedade”, detalha a médica.
Maior eficácia no combate à obesidade
Estudos clínicos apontam que o medicamento pode diminuir os níveis de glicemia com eficácia superior a medicamentos conhecidos, como é o caso do Ozempic, levando a uma perda de peso corporal média de 20% – o que é considerado um marco no tratamento medicamentoso da obesidade.
“O Mounjaro é indicado para adultos com diabetes tipo 2 que não estão alcançando bom controle glicêmico com dieta, exercícios e outros medicamentos. Já a tirzepatida para o tratamento da obesidade é recomendada para indivíduos com IMC igual ou superior a 30, ou com sobrepeso e presença de comorbidades, como hipertensão arterial, dislipidemia ou apneia do sono”.
No entanto, a endocrinologista alerta para a necessidade de acompanhamento médico durante o uso do fármaco, pois pode apresentar uma série de efeitos colaterais. Entre os sintomas adversos mais comuns, a médica elenca náuseas, vômitos, diarreia, constipação e desconforto abdominal, principalmente no início do tratamento. Segundo a especialista, os sintomas adversos costumam ser reduzidos ao longo do tratamento, e por isso a dose é aumentada gradativamente.
“O uso é contraindicado em casos específicos, como histórico de câncer medular de tireoide ou pancreatite. Por isso, é essencial que o tratamento seja feito com acompanhamento médico especializado, avaliando riscos, benefícios e possíveis interações com outras medicações” – esclarece.
Outro cuidado recomendado pela médica é não usar medicamentos como o Mounjaro e similares na forma de manipulados, pois não passam pela fiscalização do órgão regulador, que prioriza o controle de qualidade. Nestes casos, o paciente pode estar sujeito ao consumo de um medicamento falsificado, o que eleva os riscos à saúde e possíveis efeitos colaterais graves.
“Recebo vários pacientes que usaram a medicação aplicada em clínicas sem regulamentação, com custo muito superior ao que se fosse comprado nas farmácias, sendo as medicações com aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), mas sem nenhuma perda de peso ou com necessidade de internação devido efeitos colaterais graves, como hipoglicemia”.
Além do Mounjaro, a Retatrutida é outro medicamento que vem ganhando destaque no tratamento da obesidade, mas ainda está em processo de estudos, que indicam perda de peso média de 24% – superior à tirzepatida. O medicamento atua em três receptores hormonais: GLP-1, GIP e glucagon, podendo representar um novo patamar no tratamento da obesidade no futuro.
Com mais de 1 bilhão de pessoas vivendo com obesidade em todo o mundo, a especialista ressalta a importância de adotar um novo olhar sobre a doença. De acordo com o relatório da WOF a nível mundial, a obesidade estaria relacionada à 1,6 milhão de mortes prematuras todos os anos. Além disso, a Federação Mundial da Obesidade estima que entre 2010 e 2030 haja uma elevação de 115%.
A especialista ressalta que a obesidade é uma doença crônica, multifatorial e complexa, e não deve ser encarada como uma simples questão de força de vontade.
“O Mounjaro é uma ferramenta poderosa nesse contexto, pois atua diretamente nos mecanismos biológicos que dificultam a perda de peso. Como endocrinologista, vejo com esperança essa nova fase do tratamento, em que a ciência oferece recursos mais eficazes para lidar com doenças que impactam não apenas o corpo, mas a autoestima e a qualidade de vida” – finaliza.
Apesar dos avanços, o uso de medicamentos como o Mounjaro não substitui hábitos saudáveis, ainda que ele possa ser mais um aliado durante o processo de emagrecimento e melhoria da qualidade de vida. Para controlar a saúde de forma ampla, o acompanhamento médico é necessário para possibilitar que o tratamento seja individualizado, seguro e eficaz.
Por: Metrópoles