Em meio à Amazônia, o Rio Mutum corre por uma formação rochosa que encanta tanto quanto intriga. Sob as rasas águas escuras, mais de 10 buracos misteriosos dão forma ao que parecem “banheiras” naturais que viraram atração para turistas. Segundo especialistas, os buracos são frutos da ação da própria natureza e existem há cerca de 5 milhões de anos.
As formações naturais ficam na Cachoeira do Mutum, no município de Presidente Figueiredo, no interior do Amazonas. O local integra um geossítio que compõe a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Adão e Eva. A entrada da propriedade fica no quilometro 54 da rodovia AM-240 – distante cerca de 175 quilômetros de Manaus (AM).
As RPPN são unidades de conservação criadas em áreas privadas e têm como objetivo proteger a biodiversidade e os recursos naturais do local. Essas reservas são estabelecidas por iniciativa do proprietário da terra, reconhecidas pelo poder público, e regulamentadas pelo decreto federal 5.746/2006.
Uma vez dentro da propriedade, para chegar aos buracos é necessário percorrer uma trilha de 6 km em uma estrada de terra. O trajeto pode ser feito a pé ou de carro.
Buracos milenares
Segundo a pesquisadora e mestra em geociências pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Isabela Apoema, os buracos são chamados na geologia de marmitas ou panelas – que são cavidades formadas em rochas por ação da água com movimento circular.
Eles são formados por meio da força das correntes de água que escava o solo rochoso, que na Cachoeira do Mutum é formado por arenito. Com ajuda de grãos presos dentro do buraco, a erosão se intensifica, tornando o espaço mais profundo e largo.

“O tempo de formação leva milhares anos, mas não possuímos expressivamente o quanto elas alargam e aprofundam a cada ano”, afirma a pesquisadora.
Não há também como precisar a idade exata dos buracos, mas Apoema afirma que eles começaram a se formar há cerca de 5 milhões de anos.
“Essas feições começaram a se formar provavelmente a partir do final do Neógeno, período em que a atividade tectônica moldou a paisagem de Presidente Figueiredo, criando vales encaixados, cachoeiras e corredeiras”.
Na parte destinada aos banhistas é possível observar ao menos 11 buracos. A pesquisadora, no entanto, afirma ter medido 27 cavidades na área que compõe a Cachoeira do Mutum. Segundo ela, os buracos:
– Têm o diâmetro médio em torno de 2 metros
-Têm a profundidade média de 2,3 metros
– O mais fundo tendo a profundidade de 6,3 metros
“Por conta da profundidade, não recomendamos que os visitantes fiquem mergulhando a ponto de deixarem suas vidas correndo risco de afogamento por conta de vórtex dentro dos buracos, que pode estar ocorrendo”, alerta Apoema.
Vórtex: rotação de água em rios e oceanos, ou até mesmo na formação de redemoinhos em poças de água.
Apesar de incomum, formações semelhantes podem ser encontradas em outras partes do país, como no Geoparque Seridó, em Acari, Rio Grande do Norte, e no Distrito de Fazenda Nova, em Pernambuco.
Além dos banhistas, os buracos também são frequentados por outros seres vivos que fazem parte do ecossistema da região. Eles podem abrigar plantas e algas, que aproveitam para se desenvolver, além de animais como: sapos, cobras e peixes.
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Fonte: G1