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O brasiliense de 11 anos que criou fórmula reconhecida por doutores da UnB

O brasiliense de 11 anos que criou fórmula reconhecida por doutores da UnB

foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press

O estudante Rafael Kessler Ferreira, de 11 anos, movimentou o meio acadêmico criando uma fórmula matemática. Apesar da pouca idade, Rafael faz parte de um grupo de pessoas que possuem altas habilidades, também conhecidas como superdotados. Inspirado em uma pergunta feita pelo pai, Windy Kessler da Silva Ferreira, a partir de um exercício da Olimpíada Brasileira de Matemática (OBMEP), a criança foi capaz de elaborar uma complexa fórmula para cálculos com grandes números de forma mais fácil. A nova fórmula — [(x²+x) + (y²+y)] – (y-x)² — levou seu sobrenome, ficando conhecida como Kessler.

O feito de Rafael foi reconhecido por Igor dos Santos de Lima e Rui Seimetz, doutores em matemática da Universidade de Brasília (UnB). Santos afirmou que o pensamento que Rafael teve é raro para um menino de 11 anos. “Se você mostrar esse raciocínio para outra pessoa superdotada ou para alguém com formação na área, eles podem afirmar que conseguem acompanhar o raciocínio. Criar uma fórmula ampla como ele fez é difícil até para alguns alunos da graduação”, disse.

Para o professor, a fórmula pode ser aplicada no dia a dia. “Como o Rafael utilizou um modelo retangular para formular a equação, podemos utilizar isso na construção civil, por exemplo. Para facilitar a conta de quantos azulejos serão necessários para revestir uma parede, por exemplo”, ressaltou. Santos acrescentou que o episódio servirá de inspiração para mais pessoas. “Com certeza, outras crianças e até alunos mais velhos vão se sentir mais motivados para estudar as áreas da matemática”, concluiu.

Como forma de reconhecimento pela contribuição na área, Rafael recebeu uma moção de louvor, concedida pela Câmara Legislativa (CLDF), na última segunda-feira, proposta pelo deputado distrital Gabriel Magno (PT). Para ele, essa visibilidade pode contribuir para abrir portas a outros estudantes. “Acredito que outras crianças podem receber mais atenção para as ideias que têm”, acrescentou.

Infância

Robertha Munique Oliveira, mãe de Rafael, contou como a família percebeu as altas habilidades do filho. “Ele tinha uma curiosidade muito incomum para uma criança de 3 anos. Procurava assistir vídeos em inglês e tinha muita curiosidade em números”, afirmou. Ainda segundo a mãe, o menino começou a falar inglês sem fazer nenhuma aula do idioma. “Às vezes, ele pedia para a gente ler as instruções de um jogo e, pela correria do dia-a-dia, a gente não conseguia. Então, ele começou a falar sozinho”, complementou.

O ponto de virada ocorreu após a pandemia. Robertha procurou médicos em 2022 para determinar o diagnóstico do filho. “Conseguimos realizar alguns exames e o diagnóstico veio da passagem dos 9 para os 10 anos. Foi uma grande surpresa”, relembrou. A família passou a procurar maneiras de atender aos pedidos do filho, com recursos que pudessem ampliar os horizontes de Rafael.

A superdotação é definida como um desempenho excepcionalmente elevado em uma ou mais áreas. Apesar das altas habilidades que Rafael possui, a mãe comenta sobre alguns desafios. “A característica de assincronia é muito recorrente em pessoas superdotadas. Apesar de conseguir fazer cálculos muito avançados para a idade, o Rafael possui uma idade emocional de uma criança de 8 anos”, explicou.

“Não cobramos ele para que invente algo revolucionário ou que precise ser o melhor da turma. Até por isso, ele mesmo não tem uma ideia do curso que irá fazer ou da carreira que irá seguir”, prosseguiu.

Falta de incentivo

Apesar da conquista de Rafael, a mãe enxerga um mundo pouco preparado para seres humanos com altas habilidades. Robertha comenta que em Brasília, principalmente, faltam iniciativas que saibam direcionar o potencial dessas pessoas. “Eu acredito fortemente que a falta de programas voltados para essa questão (superdotação) possa atrasar tanto o Rafael quanto outras crianças. O ideal seria tutores e investimentos para que essas pessoas consiguissem se desenvolver adequadamente”, avaliou.

Marília Pereira, diretora do Colégio Ideal, onde Rafael cursa o 6º ano, afirmou que o menino inspirou a escola a criar mais projetos para expandir os conhecimentos de sala de aula. “Iniciamos o movimento inspirado no Rafael, quando ele veio estudar aqui no início do ano. Outros alunos, da mesma idade, perceberam a grandiosidade das possibilidades”, ressaltou.

Feliz pela conquista do filho, Robertha avalia que ainda há muito a ser feito por uma educação mais inclusiva. “Conhecemos pais que possuem mais condições financeiras e que matricularam os filhos em universidades do exterior. Acredito que seria importante uma visão para acolher esse conhecimento no Brasil. Precisamos de políticas públicas que garantam essa educação”, enfatizou.

Focado no presente, Rafael não tem muitos planos para o futuro, mas pensa em ajudar pessoas. “Ainda não sei o que quero cursar. Atualmente, tenho projetos que podem ajudar as pessoas, como a fórmula (Kessler) e um aplicativo para saber como está o tempo em qualquer lugar”, explicou.

Por Correio Braziliense

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