Há exatos 114 anos, em 21 de agosto de 1911, a história da arte foi marcada por um episódio inusitado: a Mona Lisa foi roubada do Museu do Louvre, em Paris. O responsável pelo crime foi Vincenzo Peruggia, um funcionário do próprio museu, que conseguiu retirar a pintura de sua moldura e escondê-la sob o casaco. O desaparecimento da obra-prima durou mais de dois anos, desencadeando uma investigação meticulosa da polícia francesa. Entre os suspeitos, chegou a ser interrogado até Pablo Picasso.
mistério chegou ao fim em dezembro de 1913, quando Peruggia tentou vender a pintura a um colecionador em Florença, na Itália. O colecionador, desconfiado, alertou as autoridades, e o ladrão foi preso. Em janeiro de 1914, a Mona Lisa retornou ao Louvre, recebida com entusiasmo e alívio pelo público. Desde então, a obra passou a ser protegida por medidas rigorosas de segurança, incluindo vidro à prova de balas e vigilância armada.
Muitos acreditam que a Mona Lisa sempre foi a pintura mais famosa do mundo, mas, na verdade, foi este roubo que a catapultou a esse patamar. A intensa cobertura da mídia durante o período em que esteve desaparecida transformou a obra em fenômeno global — antes disso, grande parte do público sequer a conhecia.
“O retrato passou a estampar noticiários, caixas de chocolate, postais e propagandas, tornando-se uma celebridade comparável a astros de cinema e cantores”, escreveu o britânico Darian Leader, autor de O Roubo Da Mona Lisa. No Louvre, multidões chegaram a visitar apenas o espaço vazio onde o quadro do século 16 costumava estar.
Peruggia roubou o quadro em uma segunda-feira em que o museu estava fechado. A ausência só foi notada no dia seguinte, quando as autoridades fecharam o local por uma semana. Na época, o Louvre tinha um sistema de segurança fraco e poucos guardas. Para Noah Charney, historiador norte-americano e autor do livro Os roubos da Mona Lisa, o conhecimento do funcionamento do museu e a facilidade de passagem do funcionário pelo lugar impulsionaram o ladrão ao ato.
Conforme o jornalista francês Jerome Coignard, autor do livro Uma mulher desaparece, histórias sobre a obra começaram a ser inventadas para dar continuidade à repercussão — como a de que Leonardo Da Vinci teria se apaixonado pela modelo.
Apesar de sua fama e do cuidado extremo, a Mona Lisa enfrenta desafios constantes. Há debates sobre sua autenticidade: embora tradicionalmente considerada retrato de Lisa Gherardini, esposa do comerciante florentino Francesco del Giocondo, alguns estudiosos questionam se da Vinci foi realmente seu autor, apontando diferenças de estilo e técnica.
Outro desafio é a conservação da pintura. Feita em óleo sobre madeira, a obra é vulnerável a rachaduras e ao desgaste do tempo, além de já ter passado por restaurações controversas que alteraram sua aparência original. A exposição pública também apresenta riscos: milhões de visitantes circulam pelo Louvre para admirar a obra, aumentando a exposição à poluição e ao desgaste físico.
Além disso, a interpretação da expressão de Mona Lisa continua intrigando gerações. Seu sorriso enigmático desperta debates intermináveis sobre seu estado emocional — seria felicidade, melancolia ou indiferença? Essa ambiguidade é parte do fascínio da pintura, mantendo-a no centro da atenção mundial.
Mesmo enfrentando questões de autenticidade, conservação, exposição e interpretação, a Mona Lisa permanece como um ícone indiscutível da arte renascentista, reverenciada e estudada por admiradores e especialistas em todo o mundo.