Descoberto há pouco menos de dois meses, o cometa interestelar 3I/ATLAS fascina os astrônomos por conta do comportamento peculiar: ele está liberando poeira em direção ao Sol, em um fenômeno raro conhecido como cauda antissol. Enquanto a maioria dos cometas expele a poeira para longe do Sol, se despede da poeira e gás à medida que se aproxima do astro, o 3I/ATLAS faz o oposto, nos dando uma visão de como um corpo celeste pode ser moldado em sua longa jornada pelo espaço.
O 3I/ATLAS é um dos três objetos interestelares já observados em nossa vizinhança cósmica. Ele é o mais rápido deles, viajando a uma velocidade impressionante de cerca de 60 km/s. A órbita, extremamente alongada, é a mais extrema já registrada no nosso sistema solar.
A razão por trás de sua cauda invertida pode estar em sua própria rotação. Em artigo liberado para revisão dos pares na quarta-feira (20/8), pesquisadores acreditam que o cometa pode estar girando com um de seus polos voltado para o Sol, o que faz com que a sublimação de gelo e a liberação de poeira ocorram no lado iluminado e, consequentemente, em direção ao astro.
Outra teoria sugere que a superfície do cometa pode ter sido alterada por bilhões de anos de bombardeio de raios cósmicos, o que afetou a forma como a poeira é liberada. Essas descobertas foram obtidas a partir de observações de alta resolução realizadas com o Telescópio Espacial Hubble (HST), que também ajudou a estimar o tamanho do núcleo do cometa em menos de 2,8km de raio. Para se ter uma ideia, ele é cerca de 10 vezes maior que o famoso Oumuamua, o primeiro objeto interestelar detectado no Sistema Solar.
A alta velocidade do 3I/ATLAS sugere que ele pode ter sido arremessado de seu sistema estelar de origem e vagou pela Via Láctea por bilhões de anos. Sua taxa de perda de massa, estimada entre 12 e 120 kg/s, é mais de 100 mil vezes maior que a do Oumuamua, o que confirma seu caráter de cometa e destaca a importância de estudar esses objetos para entender a formação de planetas e a evolução dos sistemas estelares.
Cometas são compostos de gelo, rocha e poeira, e formam cauda à medida que se aproximam do Sol devido à sublimação.
O cometa se tornará mais brilhante à medida que se aproximar do periélio — o ponto mais próximo do Sol — em outubro de 2025. Ele poderá ser observado da Terra até setembro, desaparecendo temporariamente do campo de visão e voltando a ser visível em dezembro.