Tidos como estudantes comuns no convívio escolar, os dois adolescentes suspeitos de planejar um ataque a duas escolas públicas do Distrito Federal não despertavam desconfiança em colegas e professores. O Correio conversou com estudantes matriculados na mesma instituição de um dos menores, de 17 anos.
Um aluno relatou que, mesmo não sendo da mesma sala, via o suspeito frequentemente nos corredores. “Ele era um menino de boa, falava com muita gente, via ele sorrindo, brincando. Não sei o que teria causado revolta. Na verdade, ninguém sabe”, contou ele, relatando que, no dia da propagação da notícia sobre o suposto atentado, muitos estudantes deixaram de ir à escola. “Ficou todo mundo com medo. Os pais mesmos que não deixaram.”
Após a operação da Polícia Civil, deflagrada na segunda-feira, que cumpriu mandados de busca e apreensão nas casas dos suspeitos, o diretor comunicou a expulsão do aluno da instituição. Em um áudio repassado aos grupos de WhatsApp de todas as salas, o gestor dá a notícia. “Estamos informando que o aluno já foi expulso e está em tratamento psiquiátrico. Com relação ao outro, comunicamos sobre o ocorrido aos diretores da escola onde ele está matriculado”, falou.
Investigação
A operação da Divisão de Prevenção e Combate ao Extremismo Violento da Polícia Civil (DPCEV) resultou na apreensão de objetos e eletrônicos ligados aos menores. Os celulares e computadores passarão por perícia para tentar identificar outros possíveis envolvidos nas ameaças.
Os materiais produzidos pelos dois menores incluíam fotos, vídeos e mensagens trocadas com outras pessoas, nas quais eles afirmavam planejar um atentado às escolas nas quais estudavam. Nas redes sociais, usavam nomes em referência a atiradores responsáveis por um massacre nos Estados Unidos.
Discurso de ódio
Pelas falas dos suspeitos, o suposto ataque ocorreria em meados de setembro. Numa das filmagens, um deles diz ao outro que a data inicial não seria possível, pois alguns itens não estavam prontos. Um dos menores sugere: “Eu estava pensando em outra data. Que tal no seu aniversário? Até lá, vai estar tudo pronto. O presente vai ser atirar, matar gente”. O outro reage: “Vou virar maior de idade, aí já posso ir preso”. “Já pode ir para o inferno”, acrescenta o outro. Em seguida, um deles afirma que planejava comprar uma arma de fogo ilegalmente.
A polícia identificou um site mantido pelos jovens, contendo discursos de ódio contra mulheres, negros e pessoas LGBTQIAPN, além de fazer apologia ao nazismo. Para ampliar o alcance, utilizavam o TikTok, onde algumas contas foram derrubadas pela plataforma, devido ao conteúdo extremista.
No material apreendido, havia transmissões, vídeos e mensagens em fóruns digitais com ameaças e símbolos nazistas. Em um áudio enviado via WhatsApp, um deles afirma: “Se eu pudesse, faria uma espécie de nazismo no Brasil”.
Em nota, a Secretaria de Educação informou que encaminhou o caso às autoridades competentes e destacou que a Diretoria de Apoio à Saúde dos Estudantes (Diase) prestará assistência aos envolvidos e às escolas afetadas. “A pasta reafirma seu compromisso com a segurança, o bem-estar e o acompanhamento integral de todos os estudantes, adotando todas as providências necessárias para o esclarecimento e resolução da situação”, concluiu.
Por: Correio Braziliense