A deficiência de vitamina D pode ser um sinal de alerta para dificuldades de mobilidade na velhice. Um estudo da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em parceria com a University College London, no Reino Unido, apontou que idosos com baixos níveis dessa vitamina apresentam risco 22% maior de desenvolver lentidão na caminhada.
A lentidão da caminhada está associada ao risco aumentado de dependência na terceira idade e outras complicações associadas à falta de movimento. Os resultados do novo estudo foram publicados na quarta-feira (13/8), na revista Diabetes, Obesity and Metabolism.
Fatores que levam à deficiência de vitamina D
- Falta de exposição solar: por passarem muito tempo em ambientes fechados, como escritórios ou dentro de casa, muitas pessoas não recebem a quantidade adequada de luz solar, que é a principal fonte de vitamina D.
- Cor da pele: pessoas com pele mais escura têm maior quantidade de melanina, dificultando a produção de vitamina D na pele.
- Cor da pele: pessoas com pele mais escura têm maior quantidade de melanina, dificultando a produção de vitamina D na pele.
- Idade avançada: idosos têm menos capacidade de produzir vitamina D pela pele e apresentam menor absorção intestinal também.
- Obesidade: como a vitamina D é solúvel em gordura, ela pode ficar “presa” no tecido adiposo, dificultando sua liberação na circulação sanguínea.
A pesquisa acompanhou 2.815 pessoas com 60 anos ou mais, inscritas English Longitudinal Study of Ageing, um estudo de longo prazo no Reino Unido. No início, todas tinham velocidade de marcha normal. Os níveis de vitamina D foram avaliados e a velocidade da caminhada monitorada por seis anos.
O risco aumentado foi identificado em pessoas com menos de 30 nanomoles por litro (nmol/L) da substância no sangue — medida usada em exames para indicar a concentração de vitamina D. Valores abaixo desse patamar foram comparados aos de indivíduos com mais de 50 nmol/L, considerados adequados.
“A vitamina D se torna um marcador importante para identificar precocemente o risco de lentidão da caminhada e serve como alerta para possíveis dificuldades de mobilidade. Como a lentidão da caminhada está associada ao risco de dependência e outros desfechos graves, o monitoramento dos níveis da vitamina deve ser prioridade nos atendimentos de saúde, principalmente entre idosos”, afirma Tiago da Silva Alexandre, professor do Departamento de Gerontologia da UFSCar e autor do estudo, em comunicado.
Função da vitamina D no corpo
A lentidão ao andar é um problema multifatorial, e a falta de vitamina D é uma das causas. Segundo a pesquisadora Mariane Marques Luiz, que conduziu o estudo durante o doutorado na UFSCar, a substância atua diretamente no sistema musculoesquelético.
“Ao ser sintetizada pela luz solar, ela regula a entrada e saída de cálcio nas células musculares, permitindo a contração. Quando há deficiência, esse fluxo é prejudicado”, explica.
A carência também reduz a síntese de proteínas musculares, dificultando a formação de músculos, e afeta o sistema nervoso. “A falta de vitamina D compromete a proteção dos neurônios e a velocidade da transmissão dos impulsos nervosos, o que interfere na marcha”, completa.
Importância do monitoramento
O estudo mostrou que a deficiência é um fator de risco independente de idade, sexo, raça, escolaridade, nível de atividade física ou presença de doenças. Apesar da importância, os especialistas alertam para o perigo do excesso. “A suplementação exagerada pode causar toxicidade”, ressalta Alexandre.
A vitamina D tem sido associada a benefícios para o sistema imunológico, cardiorrespiratório, neurológico e musculoesquelético. Praticamente todas as células do corpo possuem receptores para ela. Quando a pele é exposta ao sol, uma substância é ativada e, após processos metabólicos, transforma-se na forma ativa da vitamina, que se liga aos receptores para atuar em diferentes tecidos.
Na velhice, há redução natural dos níveis no sangue. “O afinamento da pele diminui a síntese cutânea e a distribuição da vitamina, além da queda no número de receptores nas células. Isso reduz as reservas fisiológicas e pode favorecer problemas como a perda de mobilidade. Por isso, o acompanhamento clínico é fundamental nessa fase da vida”, afirma Mariane Luiz.
Por: Metrópoles