Sonhei que os gatos fugiam. Tenho dois gatos. São irmãos da mesma ninhada, quase iguais os dois. Era assim, eu no interior do Rio Grande do Sul visitando um parente. Por alguma razão saia a pé de casa (aqui em São Paulo) com os dois gatos no colo. No meio do sonho eu pensava: deveria ter colocado os dois na caixinha, mas a distância é curta, dou conta, levo no colo mesmo. De São Paulo para o interior do Rio Grande do Sul – A PÉ! E olha que não tenho um único parente no interior do Rio Grande do Sul.
Saí andando na busca da justa medida, entre apertar demais e machucar os bichinhos ou de menos e perde-los. Foi a noite todinha. Escapava um e eu corria apertando o outro. Escapava o outro e eu corria apertando o um. Chegávamos na casa dos parentes, nos serviam café, tinha cachorro, eu no aperta e afrouxa. Até que “obrigada pela visita”, “imagina, amei ver vocês”, “vamos tentar não deixar passar tanto o tempo”, “beijo”, “beijo”, “tchau”, “tchau”. Peguei a estrada de volta para São Paulo. Meio que na saída da rua da parentada tinha um viaduto. Eu lá, a pé entre os carros, um dos gatos me escapa e cai do viaduto pra pista de baixo, eu penso que agora lascou de vez mesmo. De cima vejo o desespero do elo perdido. Até que cai uma senhora de paraquedas no mesmo pontinho do gato. Ele grita, ela também. Eu pulo no bololô com o outro no colo. Nos enroscamos os 4 no que agora parece uma rede de pescar. Acordei.
Voltando pra realidade, me mudei na semana passada. E embora mudanças sejam uma coisa horrorosa sem fim, acho que o pior de tudo foi a hora de transportar os gatos. Um entrou na caixinha como se nada fosse, miou um tanto no táxi, encolheu o rabo durante uma meia hora e depois, vida normal. O outro não entrava por nada, arranhou deus e o mundo todo, só faltou dizer que não ia e, quando foi, ficou de mal do mundo por uma semana. Tão querido que é normalmente parecia uma onça com fome rosnando pra mim, pro irmão, pras meninas, pra qualquer poeira que lhe atravessasse o caminho. Era bem ele o atropelado pelo paraquedas/rede de pesca do sonho. O único da casa que teve a coragem de rosnar pra mudança embora todo mundo tenha tido a maior vontade. Só ele gritou com o aperreio que não estava dando conta, São Paulo é longe demais do Rio Grande e se for pra pular, providencie aí um paraquedas. Bem isso, né? A gente entre o aperto e a frouxidão do que sente. Uma hora escapa mesmo. E vocês sonharam com que hoje? Boa semana, queridos.