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Se a orelha tem mecanismo de ‘autolimpeza’, qual a utilidade do cotonete?

Se a orelha tem mecanismo de 'autolimpeza', qual a utilidade do cotonete?

Limpeza do ouvido: devemos ou não usar o cotonete? — Foto: Adobe Stock

O que chamamos hoje de cotonete foi criado originalmente para cuidados com os bebês, mas o produto logo se popularizou, passando a ser usado para a higiene em geral, maquiagem, artesanato e até limpeza de objetos delicados.

O fato é que, apesar de o cotonete ser conhecido para limpeza dos ouvidos, seu uso é permitido por otorrinolaringologistas apenas para limpar a parte mais externa da orelha, o chamado pavilhão auricular.

A limpeza do ouvido deve ser feita diariamente nos banhos, apenas com a água do chuveiro, shampoo ou sabonete – de preferência neutros – e logo após o banho, com o auxílio de uma toalha macia, para complementar a limpeza e retirar o excesso de umidade, explica o médico otorrinolaringologista da Santa Casa de São Paulo e membro da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF) José Henrique Frizzo Burlamaqui.

É importante que essa prática de higiene contemple apenas as regiões dos pavilhões auriculares e porções mais externas dos condutos auditivos. Já as regiões mais internas não devem ser manipuladas, para evitar riscos de complicações, acrescenta o médico.

“O cotonete não deve ser introduzido no conduto auditivo, porque pode empurrar a cera (cerúmen) para dentro e formar as chamadas rolhas ou tampões de cerúmen, além do risco de causar ferimentos na parede do conduto auditivo ou até mesmo perfurar a membrana timpânica. Ele pode ser usado apenas para limpar a parte mais externa da orelha, o chamado pavilhão auricular”, orienta Burlamaqui.

O cerúmen é uma proteção natural de nossas orelhas externas. Por isso, não se trata de uma sujeira! Ele possui funções de lubrificação dos condutos auditivos, proteger contra bactérias da superfície da pele e ainda ajuda a evitar a entrada dos chamados corpos estranhos, como insetos. O cerúmen é um componente fisiológico que tem protagonismo em manter os condutos auditivos saudáveis.

Burlamaqui destaca que a orelha externa possui um mecanismo fisiológico de “autolimpeza” em que o cerúmen vai migrando para “fora” (lateral) do conduto auditivo, sozinho, sem necessidade de intervenção para que esse processo aconteça.

“É um mecanismo fantástico e o tudo aquilo que atrapalha esse processo, como a introdução de objetos no conduto auditivo, é contraindicado”, explica.

Veja também, nesta reportagem:

  1. O que fazer quando há excesso de cera?
  2. É importante secar com a toalha depois do banho?
  3. Podemos usar óleo mineral no ouvido?
  4. O que fazer em caso de diminuição da audição ou zumbido
  5. Como devemos limpar o ouvido após o uso de fones?
  6. Qual limite de decibéis não deve ser ultrapassado nos fones de ouvido?
  7. O que fazer quando o ouvido fica com água após um mergulho?
  8. Pode usar álcool?

1) O que fazer quando há excesso de cera?
Se houver cerúmen visível, pode-se retirá-lo de forma delicada e superficial, mas sempre sem a introdução de objetos no interior do conduto auditivo.

Em alguns casos, de acordo com orientação médica, soluções ceruminolíticas (gotas específicas vendidas em farmácia) podem ajudar a amolecer o cerúmen. Muitas vezes, essas gotas funcionam como um preparo que facilitará a remoção deste por um médico otorrinolaringologista. Mas elas só devem ser usadas se não houver histórico de perfuração da membrana timpânica ou presença de sintomas como dor intensa na orelha ou febre, por exemplo.

2) É importante secar com a toalha depois do banho?
É importante secar a parte externa da orelha, região que é visível a olhos nus – porção que contempla os pavilhões auriculares e as entradas dos condutos auditivos. Esta prática evita acúmulo de umidade, que pode favorecer infecções como as otites externas, explica Burlamaqui.

3) Podemos usar óleo mineral no ouvido?
Sim, o óleo mineral pode ser utilizado no conduto auditivo em algumas situações específicas, mas sempre com cautela e sob orientação do médico otorrinolaringologista.

Ele pode ser usado para auxiliar na hidratação do conduto auditivo em pessoas que apresentam pele muito ressecada nesta região e que frequentemente se queixam de descamação e coceira, por exemplo.

O óleo mineral pode ser útil e seguro em pacientes com as queixas citadas e com condutos e membranas timpânicas íntegras. Logo, deve ser usado com moderação e após avaliação médica do especialista.

4) O que fazer em caso de diminuição da audição ou zumbido?
Na presença de sintomas como abafamento auditivo, diminuição temporária da audição, sensação de pressão na orelha, zumbido e outros, consulte o seu médico otorrinolaringologista e caso haja de fato o acúmulo de cerúmen no conduto auditivo, a remoção deste será feita pelo médico especialista de forma rápida, assertiva e segura.

5) Como devemos limpar o ouvido após o uso de fones?
A limpeza das orelhas não é recomendada de rotina após o uso dos fones de ouvido, mas é recomendado que os fones sejam higienizados segundo orientação de seus fabricantes e que eles sejam de uso individual. Ou seja, os fones não devem ser compartilhados”

O uso frequente de fones de inserção, os chamados intra-auriculares, aumenta a predisposição ao acúmulo de cerúmen e otites externas.

6) Qual limite de decibéis não deve ser ultrapassado nos fones de ouvido?
É preciso ter moderação com a intensidade sonora e o tempo de exposição aos fones, uma vez que perdas auditivas adquiridas estão associadas à utilização inadequada.

As variáveis de intensidade sonora e de tempo de exposição aos sons caminham em direções opostas. Ou seja: quanto maior a intensidade sonora, menos tempo um indivíduo pode permanecer exposto a ela, a fim de se evitar os chamados traumas acústicos e uma condição denominada de perda auditiva induzida por ruído.

Confira informações relevantes sobre o limite de decibéis para adultos:

Para crianças, a tolerância é menor

A OMS recomenda, em média, que o tempo diário de exposição segura por uma criança às respectivas intensidades dos sons nos adultos seja reduzida pela metade.

No caso de 85 db, por exemplo, o tempo diário máximo seguro fica em torno de 4 horas.

Uma proposta feita pela OMS para o cuidado da saúde auditiva da população em geral é a de “60/60 rule”: máximo de 60% do volume do dispositivo e máximo de 60 minutos seguidos de exposição aos sons, oferecendo pausas para descanso auditivo após este período.

7) O que fazer quando o ouvido fica com água após um mergulho?
Na maior parte das vezes, com a movimentação da cabeça, a água vai se desprendendo e o incômodo é resolvido, de forma autolimitada.

Em caso de persistência de sensação de água no ouvido, abafamento auditivo, sensação de ouvir a própria voz “dentro da orelha”, zumbido, dor, saída de secreção, o ideal é procurar por assistência médica e passar por avaliação presencial com otorrinolaringologista.

8) Pode usar álcool?
Não é recomendado pingar soluções alcoólicas nos condutos auditivos como rotina. O álcool pode ocasionar irritação local na pele do canal auditivo, que é bastante delicada, além de poder provocar dor e ardência, se houver pequenas lesões (fissuras ou lacerações) na pele que reveste o conduto auditivo e também pode favorecer o surgimento de prurido e descamação de pele, pelo ressecamento excessivo gerado.

Consequências ainda mais graves podem ser ocasionadas se a aplicação destas soluções alcoólicas for realizada em pessoas que possuam perfuração da membrana timpânica, que podem evoluir com dor, ardência, tontura, zumbido ou mesmo com sequelas auditivas.

Burlamaqui explica que o uso tópico otológico (na orelha) de solução alcoólica, como o álcool 70% ainda é uma possibilidade, mas apenas em situações de exceção, como quando o paciente não tem a possibilidade imediata de ser avaliado presencialmente por um médico especialista e a sensação de água no ouvido esteja incomodando.

A solução alcoólica também pode ocorrer na ausência de outros sintomas associados como dor, saída de secreção, tontura, febre e se paciente não possuir histórico de perfuração da membrana timpânica.

Por: G1 Saúde 

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