Um estudo recente da Serasa Experian revelou que 70,5% da renda dos brasileiros está comprometida com contas a pagar — desde dívidas bancárias e faturas de cartão de crédito até energia elétrica, internet e outros gastos contratados. Em média, sobram apenas R$ 968,00 por mês para novas despesas, um valor que evidencia o aperto financeiro das famílias.
Essa realidade escancara um problema estrutural: quanto menor a renda, maior o nível de comprometimento. Apesar de alguma redução gradual nos índices, o endividamento segue alto e a inadimplência não cede. Segundo Eduardo Mônaco, vice-presidente de crédito da Serasa, o aquecimento do mercado de trabalho e políticas de estímulo à renda não têm sido suficientes para conter a escalada das dívidas.
O crédito fácil, aliado à falta de planejamento, cria um ciclo vicioso: famílias recorrem ao cartão de crédito ou parcelamentos longos para suprir necessidades imediatas, mas acabam pagando juros elevados que corroem ainda mais a renda. Essa dinâmica compromete não só a vida financeira individual, mas também a economia nacional, já que o consumo cai e o risco de inadimplência aumenta.
Diante desse cenário, a solução não está apenas em medidas emergenciais, mas em mudanças culturais e estruturais. A educação financeira nas escolas surge como ferramenta essencial para quebrar esse ciclo. Ensinar desde cedo conceitos como:
• Orçamento pessoal e familiar: planejar gastos e diferenciar necessidades de desejos.
• Poupança e investimento: cultivar o hábito de reservar parte da renda.
• Uso consciente do crédito: compreender juros, prazos e riscos do endividamento.
• Inteligência emocional: evitar decisões financeiras motivadas por impulso ou pressão social.
Essas competências permitem que as novas gerações cresçam preparadas para lidar com o dinheiro de forma saudável, reduzindo as chances de reproduzir o quadro atual.
Além da educação, o Brasil precisa de políticas públicas que incentivem práticas comerciais mais saudáveis. Hoje, o comércio paga em média até 15% de taxa para financiar vendas parceladas em 10 vezes, mas raramente oferece desconto significativo para compras à vista.
Esse modelo, que privilegia o parcelamento, estimula o endividamento do consumidor e reduz a capacidade de planejamento financeiro das famílias. Criar incentivos fiscais e regulatórios para que empresas possam oferecer descontos reais em pagamentos à vista seria uma forma de:
• Premiar o consumidor que não se endivida.
• Reduzir a dependência de crédito caro.
• Estimular a circulação de dinheiro de forma mais equilibrada na economia.
Educação financeira não deve ser vista apenas como tema escolar, mas como política pública e responsabilidade compartilhada. Famílias, empresas, governos e instituições de ensino têm papel crucial em fomentar esse conhecimento.
Se 70% da renda da população já está comprometida, o Brasil precisa enxergar que cada real mal administrado impacta não apenas uma família, mas toda a sociedade. A introdução ampla e prática da educação financeira nas escolas, somada a políticas públicas que estimulem o consumo consciente, pode ser o ponto de virada para formar cidadãos mais preparados, responsáveis e independentes.
*Marcello Moura é empresário, presidente do CDL Rio Branco e idealizador do movimento Cidadania Empreendedora.
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