A sessão desta terça-feira, 16, na Câmara Municipal de Rio Branco foi marcada por embate entre os vereadores Neném Almeida (MDB) e Joabe Lira (União), presidente da Casa. Em tom exaltado, Almeida acusou Lira de autoritarismo, de silenciar sua fala na sessão anterior e de agir com truculência. Disse ainda que o presidente teria protegido assediadores e ordenado agressões contra garis quando era mandatário da Secretaria Municipal de Cuidados com a Cidade (SMCCI).
“Aqui não é senzala e o senhor não é feitor. Eu não sou empregado do presidente”, afirmou Almeida, visivelmente irritado. Segundo ele, estava inscrito para falar no pequeno expediente da sessão anterior, mas Lira teria suspendido os trabalhos sem consultá-lo. “Fui roubado. Fui calado mais uma vez”, disse.
Em resposta, Lira subiu à tribuna e negou as acusações. Disse que estava ausente da sessão anterior por estar em um velório e que havia comunicado o motivo aos colegas. “O vereador se aproveitou da minha ausência para me atacar de forma covarde. Eu estava no sepultamento do pai de uma amiga e avisei no grupo dos vereadores”, afirmou.
O presidente da Câmara também rebateu a acusação de proteger assediadores e anunciou que tomará medidas judiciais contra Almeida. “Quero que ele prove quem é o assediador que eu protejo. Tenho família, filhos, e minha história mostra quem eu sou. Agora ele vai ter que provar na Justiça que eu mandei bater em gari e que protejo assediador”, disse.
Lira defendeu ainda a legalidade dos contratos da Casa e a atuação dos servidores comissionados, rebatendo uma outra acusação de Almeida. Segundo ele, todos os dados estão disponíveis no portal da transparência e os funcionários de seu gabinete trabalham regularmente. “Conduzo esta Casa de forma democrática e transparente”, afirmou.
Exibição de matérias e novo confronto
Após a fala de Lira, Almeida voltou ao púlpito no grande expediente e exibiu no telão reportagens sobre protestos de garis contra salários atrasados e o uso da tropa de choque da Polícia Militar do Acre para conter os trabalhadores.
Os títulos incluíam: “Clima fica tenso em protesto de garis contra salários atrasados e tem confronto com tropa de choque da Polícia Militar do AC”; “Bocalom admite que acionou Bope contra garis e avisa: ‘Faremos isso toda vez que for necessário’”; e “Garis acusam secretário de Bocalom de chamar o Bope para agredi-los: ‘Não somos bandidos’”.
“O senhor vai processar os garis? O senhor vai processar os jornais?”, questionou Almeida. Lira interrompeu: “Vou processar o senhor”.
O embate se intensificou. “Olha aí, o homem tá nervoso, eu deixei o homem falar todo o tempo aqui e eu não interrompi ele”, disse Almeida, dirigindo-se a Lira. “O senhor tem que aprender, o senhor tem que ter tranquilidade”, continuou, enquanto o presidente bebia água.
“Isso, beba mais água. O senhor tem que aprender que é a minha fala. O senhor tem que garantir. Eu fiquei ali calado escutando a sua. O senhor tem que ficar calado escutando a minha, é direito meu, e é o dever do senhor”, afirmou o vereador.
Almeida repetiu a manchete sobre os garis e apontou diretamente para Lira: “Quem era o secretário do Bocalom? Era eu, é? Era a vossa excelência, presidente. Era a vossa excelência. Aí, é muito fácil vir aqui chamar o vereador de mentiroso. Mas pergunta para todos os vereadores quem é conhecido por mentiroso aqui nessa Casa”.
Em tom cada vez mais incisivo, acusou o presidente de deboche e sugeriu que buscasse ajuda médica. “O senhor tem problema psicológico. O senhor não consegue nem escutar a minha fala”, disse. “Vocês protegeram, sim, assediadores. Vocês, sim, mandaram bater nos garis. E eu vou sempre defender a verdade aqui.”
Segundo Almeida, não pretendia prolongar o assunto, mas foi provocado pela fala de Lira. “O senhor é muito bom nisso. Aliás, é pós-graduado nisso, doutorado, MBA em mentira. O senhor não pode vir aqui faltar com respeito aos vereadores só porque foi eleito presidente. Eu não votei em vossa excelência.”
A sessão seguiu com clima tenso e foi acompanhada por servidores e assessores que presenciaram o confronto entre os parlamentares. Até o momento, não houve manifestação oficial de outros membros da Mesa Diretora sobre o episódio.