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‘Câncer do 11 de setembro’ acomete sobreviventes 24 anos após atentado às torres gêmeas; entenda

'Câncer do 11 de setembro’ acomete sobreviventes 24 anos após atentado às torres gêmeas; entenda

Foto: The New York Times

Mais de duas décadas após os atentados de 11 de setembro de 2001, o impacto da tragédia segue aparecendo em forma de doença. Dados do World Trade Center Health Program, divulgados em junho de 2025, mostram que 48,5 mil pessoas já foram certificadas com câncer associado ao ataque — entre sobreviventes civis e equipes de resgate que atuaram nos escombros.

O número não inclui apenas quem estava dentro dos prédios: bombeiros, policiais, voluntários, vizinhos que saíram de casa para ajudar e trabalhadores do entorno também respiraram a nuvem tóxica liberada pelo colapso das torres. A mistura de cimento, asbestos, fumaça e combustíveis queimados criou uma exposição inédita a centenas de substâncias químicas.

Segundo o oncologista Stephen Stefani, da Oncoclínicas e da Americas Health Foundation, essa combinação deixou marcas no organismo que só apareceram anos depois.

“Cada célula do corpo se duplica milhões de vezes ao longo da vida, e nesse processo sempre há erros. Em condições normais, o organismo corrige ou elimina essas falhas. Mas, quando a pessoa é exposta a agentes como asbestos, benzeno, sílica e chumbo, esses mecanismos de defesa ficam comprometidos. O resultado é uma reprodução celular desorganizada, com mutações que escapam ao controle e aumentam a chance de surgirem tumores”, explica.

Quase 25 mil voluntários adoeceram

Do total de diagnósticos, 24,6 mil correspondem a atuantes no resgate — como bombeiros, policiais e trabalhadores da limpeza — e 23,9 mil a sobreviventes civis. Hoje, 65% dos inscritos no programa de saúde apresentam ao menos uma condição reconhecida como relacionada ao 11 de setembro.

“Há mais vítimas do 11 de setembro depois do 11 de setembro do que no próprio dia”, resume Stefani.

Quais são os cânceres mais comuns

Os tumores mais frequentemente diagnosticados entre sobreviventes e trabalhadores são:

– Câncer de pele não melanoma – 15,5 mil casos.

– Próstata – 10,9 mil.

– Mama feminina – 4,0 mil.

– Melanoma de pele – 3,2 mil.

– Linfoma – 2,1 mil.

– Tireoide – 2,1 mil.

– Pulmão e brônquios – 1,6 mil.

Somente no último ano, foram 9,4 mil novos diagnósticos reconhecidos pelo programa.

Comparação com quem não foi exposto

Pesquisas mostram que os riscos são maiores entre socorristas e voluntários expostos no Ground Zero do que na população em geral.

Uma meta-análise publicada no Journal of the National Cancer Institute (JNCI) em 2022, com mais de 69 mil integrantes desses grupos, identificou:

– 19% mais casos de câncer de próstata;

– 81% mais casos de câncer de tireoide;

Outro levantamento, publicado no JNCI Cancer Spectrum (2020), mostrou que esses profissionais e voluntários foram 41% mais propensos a desenvolver leucemia do que moradores da mesma região que não tiveram contato com a poeira.

Tumores inesperados

O oncologista destaca, ainda, o surgimento de tumores menos comuns.

“O que chama atenção é o mesotelioma, ligado ao asbestos, e outros cânceres incomuns, como os de tecidos moles e do timo. Eles mostram como a exposição massiva a substâncias mutagênicas pode comprometer não só os pulmões, mas diferentes tecidos do corpo”, diz Stefani.

Pesquisas com modelos animais também ajudaram a entender o processo. Em camundongos expostos ao pó do WTC, cientistas observaram maior inflamação e ativação de genes ligados à multiplicação celular descontrolada — um terreno fértil para o desenvolvimento de tumores, especialmente quando já existem mutações prévias.

Programa até 2090

O James Zadroga 9/11 Health and Compensation Act, aprovado em 2011, garante o funcionamento do programa de saúde até 2090. Ele oferece atendimento gratuito, monitoramento e financiamento de pesquisas que continuam a revelar como o atentado impacta a saúde de milhares de pessoas.

“Esse não foi apenas um trauma coletivo imediato. É também uma tragédia silenciosa, que se prolonga no corpo de quem sobreviveu ou foi ajudar”, afirma Stefani.

Outros números do programa

Além do câncer, o relatório do WTC Health Program mostra que:

– 41 mil pessoas foram diagnosticadas com rinossinusite crônica;

– 38 mil têm refluxo gastroesofágico (DRGE);

– 22,5 mil vivem com asma;

– 17 mil receberam diagnóstico de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

Fonte: G1

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