O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou, durante a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, o investimento de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5,5 bilhões) na criação do Fundo Florestas Tropicais para Sempre. A expectativa é conseguir até US$ 25 bilhões (aproximadamente R$ 137,5 bilhões) com aportes de países e investidores privados até a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), prevista para novembro em Belém (PA).
Para o geógrafo e professor de pós-graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo (USP), Wagner Ribeiro, a proposta, que engloba mais de 70 países em desenvolvimento com florestas tropicais, precisa ser analisada com cautela, já que coloca a conservação ambiental também sob a lógica do mercado financeiro.
“É uma iniciativa importante, mas jogar para o mercado como está sendo proposto me parece um pouco temerário. Quem vai aplicar? Quais são as regras para investir nesse fundo? Quanto desse fundo vai chegar, de fato, até as comunidades originárias, como está anunciado? É preciso ter muito cuidado e analisar esses dados com mais objetividade, e depois conferir se esses recursos vão chegar até o chão da floresta, como é necessário”, afirma, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
Segundo Ribeiro, iniciativas como essa podem ser um “sinal de lucidez política”, já que os países não têm demonstrado ambição suficiente na redução de emissões. “Talvez o governo [brasileiro] esteja percebendo que não vai avançar muito na esfera dos governos, então tenta trazer um resultado positivo mobilizando o mercado financeiro. Também pode ser feita essa interpretação, uma cartada diferente para tentar levar algum resultado mais concreto para a COP”, analisa.
Queda no desmatamento
O professor também comentou os efeitos do aumento do orçamento federal para a gestão ambiental, que contribuiu para uma queda de 30% no desmatamento da Amazônia em 2024, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
“Quando falamos de orçamento para a conservação ambiental, estamos falando, fundamentalmente, de dar condições para as equipes atuarem. Isso representa apoio logístico, diárias para visitas de campo, combustível, automóveis de qualidade, outros meios de monitoramento, por exemplo, o uso de drones e outras formas tecnológicas que hoje estão presentes também. Esse pacote certamente leva a essa redução bastante expressiva do desmatamento”, avalia.
Ribeiro destaca a importância da manutenção dos investimentos. “Temos um cenário de ajuste de gastos etc., e, para manter essa queda vertiginosa importante do desmatamento, é preciso manter esse volume de investimento”, reforçou.
Apesar da redução na Amazônia, ele alerta que o problema persiste em outros biomas. Ele critica, por exemplo, o projeto do governo do Estado de São Paulo, capitaneado por Tarcísio de Freitas (Republicanos), de duplicar uma rodovia em Cotia, o que ameaça áreas preservadas da Mata Atlântica. “Esse é um desmatamento absolutamente evitável e que deve ser combatido. Não faz o menor sentido fazer uma ação como essa em pleno século 21, no ano em que o Brasil vai receber a COP”, rechaça.
*Fonte: Brasil de Fato (BdF)