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Lideranças do Acre pedem ação na Câmara Federal contra retrocessos ambientais

Lideranças do Acre pedem ação na Câmara Federal contra retrocessos ambientais

Sessão solene em homenagem ao Dia da Amazônia reuniu lideranças indígenas, extrativistas, ambientalistas e representantes do governo federal (Foto: Bruno Spada | Câmara dos Deputados)

A Câmara dos Deputados promoveu na última quinta-feira, 4, uma solenidade dedicada ao Dia da Amazônia, celebrado em 5 de setembro. A iniciativa, articulada por nove parlamentares de diferentes partidos e estados, reuniu lideranças indígenas, extrativistas, ambientalistas e representantes do governo federal.

Entre os destaques do encontro estiveram as falas de três mulheres acreanas – a deputada Socorro Neri (PP-AC), a ativista Ângela Mendes e a indígena Alana Manchineri – além da participação da ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, que é referência nacional na causa.

O evento foi marcado por discursos que combinaram denúncia, celebração e apelo por medidas concretas. Socorro Neri, que também foi uma das solicitantes da homenagem, abriu os trabalhos com um chamado à responsabilidade institucional.

“Proteger a Amazônia exige coragem política, senso de responsabilidade e, mais do que nunca, senso de urgência”, afirmou. A deputada criticou os retrocessos na legislação ambiental e defendeu a manutenção dos vetos presidenciais à chamada “lei da devastação”, aprovada recentemente pelo Congresso. “Minimamente, é isso que esta Casa precisa dar como resposta”, disse.

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Deputada Socorro Neri (PP-AC) defende o fortalecimento da legislação ambiental e a integração dos países amazônicos no Parlamento Amazônico (Foto: Assessoria)

Neri também destacou sua atuação no Parlamento Amazônico, organização que reúne representantes dos nove países que abrigam o bioma.

“Tem sido de uma tristeza grande perceber que, em cada um desses países, o território amazônico é o mais sofrido, com menor IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] e menos oportunidades. Precisamos virar essa página”, afirmou. Para ela, o desenvolvimento da região deve estar baseado em ciência, tecnologia e políticas públicas potentes, capazes de conciliar preservação ambiental e dignidade humana.

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Ângela Mendes, filha de Chico Mendes, destaca a Aliança dos Povos da Floresta e a resistência das comunidades tradicionais no Dia da Amazônia (Foto: Bruno Spada | Câmara dos Deputados)

A ativista Ângela Mendes, filha de Chico Mendes e coordenadora do comitê que leva o nome do pai, reforçou a importância de reconhecer os povos da floresta como protagonistas da conservação.

“A Amazônia é viva, resiliente, mas sofre com ameaças e violências. Precisamos cuidar da floresta e de quem cuida dela”, disse. Ela lembrou que, no Acre, o Dia da Amazônia coincide com o início do Festival Jovens do Futuro, que celebra a carta escrita pelo líder seringueiro às novas gerações. “Quando olho para essa diversidade aqui, lembro da Aliança dos Povos da Floresta. Hoje ela se amplia, acolhe pescadores, assentados, quilombolas. É essa aliança que vai garantir a sobrevivência da Amazônia”, afirmou.

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Alana Manchineri, coordenadora da Coiab, durante discurso na Câmara dos Deputados em defesa dos territórios indígenas e da justiça climática (Foto: Bruno Spada | Câmara dos Deputados)

Alana Manchineri, coordenadora da Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), fez um pronunciamento incisivo sobre justiça climática e soberania dos territórios indígenas. Ela leu um manifesto que denuncia o papel da indústria de combustíveis fósseis nas emissões globais e cobra reconhecimento internacional da contribuição dos povos da floresta.

“Diferente dos países que buscam reduzir suas emissões, nossos territórios já funcionam como grandes sumidouros de carbono. Absorvem mais CO₂ do que emitem”, disse. Alana também criticou o lobby climático e os ataques à legislação ambiental. “A Amazônia não ficará de pé se o planeta estiver em chamas. Quando dizemos que a resposta somos nós, não é retórica. É confirmação de que estamos segurando o céu para que ele não desabe.”

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Ministra Sônia Guajajara faz chamado à consciência coletiva e exalta o papel das mulheres indígenas na proteção da Amazônia (Foto: Bruno Spada | Câmara dos Deputados)

A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, também discursou e fez um chamado à consciência coletiva diante da crise climática. Ela lembrou que o Dia da Amazônia coincide com o Dia Internacional da Mulher Indígena e pediu aplausos às mulheres que lutam diariamente pela proteção dos territórios.

“Falo aqui não apenas como ministra, mas como mulher amazônida. Sabemos que enfrentamos uma grave violência contra defensores do meio ambiente, e essas pessoas seguem morrendo simplesmente por proteger a floresta”, afirmou. Guajajara também destacou a atuação do governo federal na desintrusão de terras e na retomada da demarcação de territórios indígenas. “Olhar para a Amazônia não é olhar apenas para o agora. É presente e é futuro.”

Além das quatro lideranças, compuseram a mesa do encontro representantes do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA). A atividade integrou a programação da Semana da Sociobiodiversidade, realizada em Brasília entre 1º e 5 de setembro, e reforçou a articulação entre movimentos sociais e instituições públicas em defesa da Amazônia.

Ao final, os participantes reafirmaram a necessidade de fortalecer alianças entre povos indígenas, extrativistas, quilombolas e ribeirinhos. “A resposta somos todos nós: comunidades que enfrentam a crise climática com suas próprias vidas”, disse Alana Manchineri. O compromisso coletivo foi reafirmado como um chamado à ação para proteger e garantir justiça social e ambiental às populações que habitam o bioma amazônico.

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