Falsificadores parecem desistir da onça-pintada. Em tempos de Pix, criminosos que copiam dinheiro mudaram de tática: desistiram de cédulas intermediárias – como a de R$ 50 que homenageia o maior felino brasileiro – e partiram para as notas de maior denominação. Agora, pensam muito mais na garoupa e no lobo-guará.
Dados do Banco Central mostram uma curiosa mudança no comportamento dos criminosos. Atualmente, 80% de todo o dinheiro falsificado recolhido pelo sistema bancário tem os dois maiores valores do dinheiro brasileiro: R$ 100 e R$ 200 – que homenageiam o peixe marinho e o mamífero do Cerrado, respectivamente.
Nesse fenômeno, chama especial atenção a disparada da ocorrência das falsificações de R$ 200. A cédula viu a participação mais que dobrar em cinco anos, e atualmente já responde por 33% de todo o dinheiro recolhido pelo BC.
Lógica do crime
É comum pensar que criminosos prefiram falsificar cédulas de maior valor. O uso do dinheiro no dia a dia, porém, mostra que não é bem assim. Quando um comerciante recebe uma cédula grande, o dinheiro normalmente é verificado contra a luz, no relevo ou nos elementos holográficos.
Ou seja, o dinheiro grande chama atenção e desperta cautela.
Ao perceber esse tipo de comportamento, muitos falsários optam por cédulas de menor valor. A lógica é: não vão ter o mesmo rigor com uma nota de R$ 20 ou R$ 50. E, assim, pode ser mais fácil desovar no comércio esse papel que não vale nada.
Números confirmam esse comportamento. Em 2018, 53,5% de todas as cédulas falsificadas eram de R$ 20 e R$ 50. Números parecidos são observados até o ano da pandemia, conforme dados do BC.
Pandemia e pix mudaram tudo
Em 2020, muitas coisas mudaram – e uma das principais no Brasil foi a relação dos brasileiros com o dinheiro. A popularização das transações eletrônicas e o surgimento do Pix reduziram o uso das cédulas e moedas, especialmente nas grandes cidades e entre os mais jovens.
Ao mesmo tempo, uma decisão do BC também alterou o escopo de atuação dos criminosos. Naquele mesmo ano de 2020, foi lançada a cédula de R$ 200 – o dobro da nota de maior valor que circulava na época.
Tantas mudanças também parecem ter mudado a atuação do crime.
Desde então, houve uma crescente participação dessa nova cédula no crime: de 15% das falsificações em 2021 para 33% em 2025. Ou seja, mais que dobrou em cinco anos. A fatia das cédulas de R$ 100 oscila, mas segue dentro de um intervalo parecido: de 51% em 2021 para 47% neste ano.
Com esse aumento da participação da garoupa e lobo-guará nas notas falsas, caiu a presença de outros valores. A cédula de R$ 50 – que já representou 38% de todas as falsificações em 2018 – despencou para 11% neste ano.
Com cédulas grandes ou pequenas, o cuidado deve ser sempre o mesmo. Ao receber o dinheiro, verifique a autenticidade.
As cédulas – da primeira e segunda família do real – têm diferentes elementos de segurança, como marca d’água, impressão com relevo, número escondido, quebra-cabeça na impressão ou número que muda de cor.
Por: CNN Brasil