Pesquisadores identificaram duas múmias do dinossauro Edmontosaurus annectens, que foram preservadas em argila há cerca de 66 milhões de anos nos Estados Unidos. O estudo, publicado na revista Science na quinta-feira (23), revela como esse intrigante processo de mumificação foi realizado pela natureza.
Os cientistas reconstruíram a aparência do dinossauro por meio de tecnologias de imagem. Ele tinha bico de pato, uma crista alta sobre o pescoço e uma fileira de espinhos sobre a cauda e os cascos, revestindo os dedos. Acredita-se que, após a morte do animal, seu esqueleto foi revestido por uma camada de 0,2 milímetros de argila.
“É a primeira vez que temos uma visão completa e detalhada de um grande dinossauro com a qual podemos realmente nos sentir confiantes”, disse o líder do estudo, Paul Sereno, da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, em comunicado. “As terras áridas do Wyoming, onde as descobertas foram feitas, são uma ‘zona de múmias’ única que reserva ainda mais surpresas com os fósseis coletados ao longo de anos de visitas por equipes de estudantes universitários.”
No início do século 20, muitas múmias de dinossauros foram encontradas no centro-leste de Wyoming, nos Estados Unidos. Vale lembrar que a mumificação de dinossauros não é como as das múmias preparadas por humanos em tumbas egípcias e não há material orgânico remanescente.
Como um dinossauro vira múmia?
Após ser enterrado, sedimentos como argila cobrem o corpo da criatura e o tecido original se decompõe completamente. Porém, a argila endurecida mantém o formato e a textura da pele, mantendo a impressão fossilizada das partes do corpo.
“Esta é uma máscara, um molde, uma camada de argila tão fina que você poderia soprá-la”, afirma Sereno. “Ela foi atraída para a parte externa da carcaça em um evento fortuito de preservação”.
A carcaça do dinossauro ficou exposta ao sol e depois o corpo foi enterrado por uma inundação com sedimentos úmidos. Uma camada de microrganismos denominada biofilme se formou sobre a superfície do cadáver. A interação desses organismos com o ambiente criou uma carga eletrostática que atraiu partículas de argila. Dessa forma, foi criado um molde natural, que preservou a forma natural do dinossauro em 3D.
Os arqueólogos passaram horas retirando com cautela a fina camada de argila. Foi possível caracterizar o material que envolvia a parte externa e interna do fóssil por meio de ferramentas tecnológicas como imagens de superfície 3D, tomografias computadorizadas e fósseis de pegadas (icnofósseis). A equipe se juntou a artistas digitais para reconstruir a aparência do animal e o seu bico de pato.
Os cascos do dinossauro
Com as duas múmias, foi possível reconstruir um perfil completo do animal pré-histórico. As análises indicam que a pele apresentava escamas, principalmente na barriga e na cauda. Essas escamas eram muito pequenas, medindo entre 1 a 4 milímetros de diâmetro — algo considerado pequeno para um animal com mais de 12 metros de comprimento. A caixa torácica tinha rugas preservadas, indicando que o bico de pato era composto por uma pele fina.
As múmias tinham três dedos em suas patas, que estavam envoltas de um casco, algo semelhante à anatomia dos cavalos. Mas os cientistas descobriram que somente as patas dianteiras com os cascos tocavam o solo. Já as patas traseiras tinham uma espécie de almofada carnuda no calcanhar atrás dos cascos — algo também presente em aves e elefantes.
A pesquisa contribui para novos estudos sobre a anatomia de dinossauros e fornece mais conhecimento sobre a mumificação desses animais. Agora, os autores querem explorar mais locais na tentativa de encontrar mais múmias.
“Há tantas ‘primeiras vezes’ incríveis preservadas nessas múmias com bico de pato — os primeiros cascos documentados em um vertebrado terrestre, o primeiro réptil com casco confirmado e o primeiro animal de quatro patas com cascos e postura diferente nos membros anteriores e posteriores”, destaca Sereno.
Por: Revista Galileu






