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Opinião: Famílias e finanças; O dever de organizar o próprio dinheiro antes que o copo transborde

Opinião: Famílias e finanças; O dever de organizar o próprio dinheiro antes que o copo transborde

Sem controle de gastos, o lar perde previsibilidade, o crédito se esgota e o futuro se complica. Planejamento é mais que poupar — é proteger o amanhã.

Em tempos de crédito fácil e consumo impulsivo, muitas famílias brasileiras perderam o hábito mais elementar da prosperidade: saber quanto ganham, quanto gastam e para onde o dinheiro vai. O resultado é um ciclo vicioso de endividamento que se repete mês após mês, até o copo transbordar — quando o crédito some, as contas se acumulam e o colapso financeiro se instala.

Organizar as despesas do lar é o primeiro passo para retomar o controle. Planejar é dar destino consciente a cada real que entra. Significa entender que o dinheiro deve ser uma ferramenta para construir estabilidade, e não um peso que aprisiona.

A previsibilidade financeira não é sinônimo de rigidez, mas de clareza. Quando a família sabe quanto gasta, passa a enxergar desperdícios, corrigir excessos e criar margens de segurança para os imprevistos inevitáveis da vida.

Um dos maiores erros cometidos no dia a dia é parcelar compras sem ter reserva financeira e sem espaço real no orçamento. O alívio momentâneo — “cabe no bolso agora” — se transforma rapidamente em aperto. As parcelas comprometem o orçamento dos próximos meses, reduzem a flexibilidade e tornam o futuro mais difícil.

Quando se gasta o que ainda nem foi recebido, o risco é viver permanentemente no vermelho. O consumo planejado é uma forma de respeito ao próprio futuro — e à própria família.

Construir uma reserva de emergência é mais do que guardar dinheiro: é criar liberdade. Imprevistos sempre virão — uma doença, o desemprego, o conserto do carro ou uma despesa médica. Quem tem reserva lida com o problema; quem não tem, se desespera.

O ideal é que essa reserva cubra de três a seis meses do custo total de vida da família. O caminho é simples, mas exige disciplina: poupar antes de gastar e investir em algo seguro, mesmo que em pequenas quantias mensais.

Muitos adultos nunca receberam educação financeira e, por isso, desaprenderam a lidar com o próprio dinheiro. Vivem em função do salário, do limite do cartão e das parcelas. É preciso resgatar o senso de gestão doméstica, envolver toda a família e transformar o orçamento em um projeto coletivo.

Famílias que organizam suas finanças constroem mais do que estabilidade — constroem dignidade. Prosperidade não nasce da sorte nem da renda alta, mas da disciplina e da capacidade de planejar.

Enquanto muitos continuam enchendo o copo até ele transbordar, quem planeja aprende a beber com equilíbrio — e a saborear, com tranquilidade, o fruto de sua própria organização.

Marcello Moura é empresário, presidente do CDL Rio Branco e líder do movimento Cidadania Empreendedora.
www.cidadaniaempreendedora.com.br

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