*Aviso: esta matéria aborda temas como depressão e suicídio. Se você enfrenta problemas ou conhece alguém que está nessa situação, veja ao final do texto onde buscar apoio.
Um levantamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) revelou, em setembro, que a cada 10 minutos, uma criança ou adolescente entre 10 e 19 anos é atendido no Brasil por autolesão ou tentativa de tirar a própria vida. Nos últimos dois anos foram registrados, em média, 137 atendimentos por dia nessa faixa etária, envolvendo casos de violência autoprovocada e tentativas de suicídio.
O cenário reforça a importância de os pais saberem reconhecer os sinais de sofrimento emocional e buscarem ajuda especializada o quanto antes.
Sinais que exigem atenção dos pais
A depressão pode se manifestar de formas diferentes em crianças e adolescentes. De acordo com a psicóloga Bianca Taneli, do Grupo Reinserir, os jovens têm menos recursos para expressar sentimentos e, por isso, os sinais podem ir além da tristeza.
“Podem surgir irritabilidade, comportamentos agressivos, recusa em ir à escola, isolamento, retraimento e desinteresse por atividades da rotina”, explica. Também é comum haver mudanças no sono e no apetite, além de sintomas físicos, como dores de cabeça ou de barriga, mesmo sem uma causa médica.
A profissional reforça que o comportamento silencioso pode ser tão preocupante quanto atitudes mais chamativas. “Muitas vezes, a criança ou o adolescente em depressão é aquele que não dá trabalho, fica muito quieto e se isola em seu sofrimento”, aponta.
Para o psiquiatra André Botelho, do Hospital Sírio-Libanês em Brasília, é preciso redobrar a atenção quando os sinais persistem por mais de duas semanas. “Se o jovem apresenta tristeza ou irritabilidade constante, cansaço, perda de interesse, isolamento, queda no desempenho escolar ou fala sobre morte, é hora de buscar ajuda”, afirma.
Nos menores, ele acrescenta, o quadro pode aparecer como birras fora do comum, medos intensos e regressões, como voltar a fazer xixi na cama.
O que é comportamento da idade e o que é sinal de alerta?
É comum que adolescentes passem por fases de instabilidade emocional. A diferença, segundo André Botelho, está na persistência e no impacto na rotina.
“Mudanças típicas da idade vão e vêm, e dependem do contexto. Já o sinal de alerta é contínuo, aparece em vários ambientes, atrapalha o dia a dia e tende a piorar, especialmente se houver automutilação, desesperança ou conversa sobre morrer”, esclarece.
Fatores que aumentam o risco de depressão
A genética tem peso no risco de desenvolver depressão, mas está longe de ser o único fator. “Histórico familiar de transtornos emocionais, perdas precoces, violências, bullying, privação de sono, excesso de telas, doenças crônicas, dificuldades de aprendizagem e uso de álcool ou drogas aumentam as chances de adoecimento emocional”, indica Botelho.
Por outro lado, a presença afetiva dos adultos, uma rotina equilibrada, sono adequado, prática de atividades físicas e bons vínculos sociais e escolares atuam como fatores de proteção.
Como os pais podem agir?
Abrir espaço para o diálogo é um dos passos mais importantes. “Os filhos precisam sentir que podem falar sobre o que sentem sem medo de julgamento”, orienta Bianca.
A profissional recomenda escuta ativa e empática. Acolher o que a criança ou o adolescente expressa, sem minimizar ou criticar, faz toda a diferença. “Isso deve ser cultivado mesmo antes de aparecer um problema, como forma de prevenção”, afirma.
A orientação é procurar atendimento assim que os sinais forem percebidos e estiverem causando sofrimento. “Pode-se começar pelo clínico geral ou médico da família para descartar causas físicas e, em seguida, buscar um psicólogo”, sugere Bianca.
Nos casos mais graves, o encaminhamento ao psiquiatra é indicado. Para quem não tem acesso à rede privada, há alternativas na rede pública, como as UBSs e os CAPS Infantojuvenis (CAPSi), além de clínicas-escola de psicologia e projetos sociais com atendimentos acessíveis.
O psiquiatra André Botelho reforça que é fundamental agir rápido. “Procure ajuda se os sintomas durarem mais de duas semanas e prejudicarem o dia a dia, se houver automutilação, ideias de morte, recusa escolar persistente ou mudanças marcantes no sono e peso”, orienta.
*Se você está passando por depressão, tendo pensamentos de suicídio ou conhece alguém nessa situação, procure apoio. Você pode ligar ou conversar pelo chat dos seguintes serviços:
- Centro de Valorização da Vida (CVV): 188 (24h, ligação gratuita e sigilosa) ou pelo site cvv.org.br;
- Samu: 192 em situações de emergência médica;
- CRAS/CRAS locais e serviços de saúde mental do SUS também oferecem suporte psicológico.
Por: Metrópoles