No começo, era só um caracol. Bob, pequeno, curioso e faminto – não por qualquer coisa, mas por comida saudável. A criatura inventada por Davi Luís Monteiro Moura, de 7 anos, ganhou vida, amigos e uma missão: ensinar, com leveza, que o que vai no prato também afeta o coração. Neste sábado, 4, às 17h, no Espaço Calma do Via Verde Shopping, em Rio Branco, Davi lança seu primeiro livro, “É saudável?”, com direito a tarde de autógrafos, jogos e brincadeiras.
A história acompanha Bob e seus colegas em um piquenique antes de uma viagem à praia. Tudo parece simples, até que o caracol não encontra sua comida preferida e um dos amigos exagera no sal. A narrativa, recheada de afeto e escolhas, fala sobre consequências sem perder o tom de brincadeira. A obra traz ainda duas atividades para os leitores e um desafio da memória criado pelo próprio autor.
Sim, Davi não apenas escreveu. Ilustrou, desenhou os personagens, pensou nas regras do jogo e pediu que o material fosse publicado. O pedido veio direto, sem rodeios. “Eu não vou mais escrever livros”, disse à mãe, Izailene Monteiro Saar, técnica em herbário da Universidade Federal do Acre (Ufac). Ao perguntar o motivo, ouviu a resposta firme: “Porque você não publica.” A frase virou impulso. E o projeto saiu do papel.

Desde pequeno, Davi mostra sinais de criatividade e sensibilidade. Nasceu prematuro, de 35 semanas, mas saudável. Ainda bebê, gostava de videoclipes e instrumentos musicais. Aos dois anos, mesmo sem se comunicar verbalmente, já reconhecia letras e números. A fala veio depois dos três, com ajuda da fonoterapia. O diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) chegou após os pais perceberem o atraso na linguagem e algumas diferenças em relação a outras crianças da mesma idade.
O pai, André Luis Botelho Moura, professor de biologia do Instituto Federal do Acre (Ifac), foi quem notou os primeiros sons de letras vindos do filho. A descoberta levou a família a estimular ainda mais o gosto de Davi por leitura, música e desenho. “Sempre incentivamos. Desde bebê ele teve acesso a livros, instrumentos e materiais de arte. Ele ama criar”, conta Iza.
Hoje, Davi frequenta terapias quatro vezes por semana e é atendido no Núcleo de Altas Habilidades/Superdotação do Acre (NAAH/S), onde é acompanhado pelas professoras Ryane Furtado e Thaynnan Pinheiro. Ryane já havia sido professora dele no Sesi e identificou o talento acima da média. Tayná ajuda na correção do texto do livro. Apesar de falar bastante, Davi ainda enfrenta desafios na comunicação, mas se expressa com entusiasmo e clareza quando o assunto é o que ama.
A rotina é equilibrada entre escola, terapias e brincadeiras. À tarde, vai para aula. À noite, faz as atividades escolares e desenha. Quando está em casa, costuma pegar folhas A4, grampear e começar a escrever suas próprias histórias. Cria jogos, pinta telas, monta brinquedos com Lego. Aos sábados, joga Minecraft Education e assiste desenhos. Aos domingos, vai à igreja, onde ouve histórias da Bíblia e come churrasco.
Quando algo chama sua atenção por vários dias, vira livro. A curiosidade é o motor. “Ele observa, pergunta, desenha, escreve. E transforma tudo isso em algo que pode ser compartilhado”, diz a mãe. O boletim escolar é impecável. No pré 2, já sabia ler. Hoje, aos sete, estreia na literatura com uma obra que mistura imaginação e cuidado.
O lançamento tem apoio da Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM), do NAAH/S e do Via Verde Shopping. A entrada é gratuita e aberta a todos – crianças, famílias, curiosos. Quem for poderá conhecer o autor mirim, ouvir histórias, brincar com os personagens e, talvez, aprender algo novo sobre o que se come e o que se sente.
Davi mostra que não é preciso ser adulto para escrever sobre o que importa. Basta ter espaço, incentivo e vontade de contar. E isso ele tem de sobra.
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