“Quando eu descobri, foi um susto. A palavra ‘câncer’ assusta muito as pessoas”, lembra Karen Cristina Melo da Silva, 38 anos, servidora da Universidade Federal do Acre (Ufac). Em 2021, ela recebeu o diagnóstico de câncer de mama, uma das doenças mais temidas entre as mulheres. O impacto foi imediato, mas, como ela mesma diz, “a força veio de dentro”.
“Em nenhum momento eu imaginei o pior. Saiu aquela força de dentro de mim que eu sempre acreditei que existia. Eu sabia que ia vencer”, conta.
Durante o tratamento, que incluiu quimioterapia, Karen precisou se afastar do trabalho e mudar completamente sua rotina. “Eu tive que pedir afastamento, tirar o meu cachorro de casa, porque não podia ter contato com animais. A quimioterapia mexe com tudo, com o corpo, com a autoestima, com a cabeça. Mas, ao mesmo tempo, é um renascimento”, lembra.
A queda de cabelo, o inchaço e o cansaço físico foram apenas parte dos desafios. “As pessoas dizem: ‘cabelo cresce’, mas é muito difícil para uma mulher. A gente se despede de tudo o que é superficial e passa a valorizar o essencial: acordar, arrumar a casa, estar viva”, afirma.
Hoje, Karen está em remissão e de volta à rotina no serviço público. “A melhor decisão foi voltar a trabalhar. Eu gosto de ter uma rotina, isso me dá sentido. Aprendi a me respeitar, a colocar limites. Se algo me faz mal, eu não quero pra minha vida. Hoje eu só quero ser feliz e viver o presente”, diz.
A servidora também faz questão de compartilhar o que aprendeu com outras mulheres. “Existe vida após o câncer. E ela é muito bonita. Eu me amo mais, cuido mais de mim e quero que as mulheres se cuidem também. Façam seus exames, não esperem chegar aos 40. Eu descobri aos 36, sem ter histórico familiar. O câncer não escolhe idade, cor ou classe social”.

Medicamento inédito
O Acre recebeu, ainda em outubro, o medicamento Trastuzumabe Entansina, um fármaco inédito para o tratamento do câncer de mama pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O medicamento é indicado especialmente para mulheres que ainda apresentam doença ativa após o tratamento inicial, seja cirúrgico ou quimioterápico.
Para o secretário de Saúde do Acre, Pedro Pascoal, a aquisição representa um avanço importante na oferta de terapias oncológicas no estado.
“É um marco histórico para o Acre. Nós sabemos que temos três linhas de tratamento: a cirúrgica, a radioterápica e a quimioterápica. Esse é o fortalecimento do pilar da quimioterapia. Recentemente atualizamos o nosso acelerador linear. Hoje, temos o aparelho mais moderno da Região Norte, com zero fila para pacientes que aguardam radioterapia. E agora, também entramos com esse fortalecimento na parte da quimioterapia”, afirmou Pascoal.
Diagnóstico precoce ainda é desafio
O relato de Karen ganha ainda mais força diante dos números. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de mama é o tipo mais comum entre as mulheres no Brasil e no Acre — e continua sendo a principal causa de morte por câncer feminino.
Entre 2020 e 2024, o Acre registrou 539 casos de neoplasia maligna da mama, segundo o levantamento do Registro de Câncer de Base Populacional. Em 2024, foram 22 novos diagnósticos, e 34 mulheres perderam a vida para a doença no estado.
A taxa de mortalidade acreana é de 8,4 óbitos por 100 mil mulheres, ligeiramente abaixo da média da Região Norte (9,7), mas ainda considerada alta.
Estima-se que o Acre registre 100 novos casos por ano, com taxa ajustada de 26,2 por 100 mil mulheres — próxima à média nacional (41,9). Além disso, o Ministério da Saúde recomenda que mulheres a partir dos 40 anos façam a mamografia anualmente.
Karen, que descobriu o câncer aos 36, alerta para o autocuidado em todas as idades: “Sentiu algo diferente, procure o médico. Não ache que é só cansaço. O corpo fala com a gente. E quanto mais cedo a gente ouve, mais chances de vencer a doença”, finaliza.








