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Com quase 30 mil seguidores nas redes sociais, o taxista e humorista Raynery Cunha achou que seria engraçado se vestir como um Pai de Santo e encenar um ritual de benzimento na Câmara de Vereadores de Sena Madureira, interior do Acre.
Entretanto, a “brincadeira” promovida pelo humorista na sessão dessa terça-feira, 14, ganhou repercussão negativa, incluindo uma nota de repúdio da Federação das Religiões de Matriz Africana do Acre (Feremaac).
Em um vídeo publicado nas redes sociais de Raynery, ele aparece no plenário da Câmara com um ramo de folhas na mão, simulando uma espécie de “bate-folha” e benzimento – ritual de limpeza espiritual e cura, praticado principalmente na Umbanda e em outras religiões de matriz africana.
Em nota divulgada nesta quarta-feira, 15, a Feremaac desaprova a cena. “É inaceitável que elementos sagrados e a figura de lideranças de nossas religiões, como o Babalorixá (Pai de Santo) ou a Iyalorixá (Mãe de Santo), sejam transformados em piada ou ferramenta de escárnio público, especialmente em um ambiente de poder como uma Casa Legislativa”, diz a instituição.
Segundo a federação, ao se vestir como um sacerdote de matriz africana para fazer piada, o humorista propaga um gesto de racismo religioso.
“Ações como esta configura: Racismo Religioso e Intolerância: A apropriação e ridicularização de elementos de fé das religiões de matriz africana (Candomblé, Umbanda, Jurema, entre outras) reforçam estereótipos negativos e alimentam o preconceito e a intolerância religiosa, crimes previstos; Violência Simbólica: O uso do traje (roupa branca e o pano vermelho na cintura), bem como a simulação de um ritual de “benzeção” por alguém não pertencente à tradição e com finalidade humorística, desvaloriza e profana a seriedade e o profundo significado de nossos ritos; desrespeito ao Estado Laico: uma instituição pública, como a Câmara Municipal, deve ser um ambiente de respeito a todas as crenças e não pode ser palco para a banalização ou vilipêndio de qualquer manifestação religiosa”.
Por fim, a instituição pede que Cunha se retrate publicamente. “Assim exigimos: retratação pública por parte do humorista e, se houver, da Câmara Municipal de Sena Madureira, caso a Casa tenha permitido ou endossado tal ato. Adoção de Medidas Educativas para conscientização sobre o respeito às religiões de matriz africana e o combate ao racismo religioso”.
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Não quis ofender

Procurado pela A GAZETA, o humorista Raynery Cunha informou que não é praticante de uma religião afro brasileira/matriz africana, contudo, há quatro anos interpreta um personagem de pai de santo.
“Eu sou humorista, crio conteúdo de humor para as redes sociais. E eu tenho um personagem que é o Pai Raynery do Yaco, uso esse personagem já faz uns quatro anos! Daí como na Câmara de Vereadores teve toda aquela repercussão da briga entre dois vereadores, eu fiz uma sátira, me vesti de Pai Raynery e fui benzer a câmara para ‘’levar a paz’”, explica.
O humorista destaca ainda que não tinha a intenção de ofender. “Mais tudo de uma forma humorada. Sem atingir religião ou algo do tipo”, destacou.
Após tomar ciência da nota de repúdio emitida pela Feramac, o humorista alega que vai se manifestar nos próximos dias. “Embora eu não tenha citado religião, muito menos zombado delas, em breve irei me manifestar nas minhas redes sociais a respeito dessa nota de repúdio e de outras que recebi”.