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Sindmed critica exposição de médicas e diz que caso José Pedro foi transformado em espetáculo: ‘Medicina não é ciência exata’

Sindmed critica exposição de médicas e diz que caso José Pedro foi transformado em espetáculo: 'Medicina não é ciência exata'

Foto: Assessoria

O Sindicato dos Médicos do Acre (Sindmed-AC) emitiu, nesta quarta-feira, 29, uma nota em defesa de médicas envolvidas no caso de óbito de José Pedro, um recém-nascido prematuro extremo que “acordou” durante o próprio velório, no sábado, 25. O bebê faleceu ainda neste domingo, 26. A entidade criticou a cobertura da imprensa e a postura de alguns atores políticos, apontando que a exposição das profissionais ocorreu antes de qualquer apuração técnica.

Segundo o Sindmed, manifestações públicas e cobranças de explicações por parte das médicas transformaram o episódio em espetáculo, desrespeitando o direito constitucional à presunção de inocência. A nota também lembra que a “Medicina não é uma ciência exata e que resultados desfavoráveis não significam, por si só, erro ou negligência”.

O sindicato destacou ainda a “pressão sofrida pelos profissionais de saúde, muitas vezes esquecidos nos momentos de rotina, mas amplamente cobrados diante de tragédias”. A entidade conclama imprensa, gestores públicos e sociedade a agir com responsabilidade e empatia, permitindo que os fatos sejam apurados de forma adequada.

Nota do Sindicato dos Médicos do Acre na íntegra:

O Sindicato dos Médicos do Acre (Sindmed-AC) vem a público manifestar profunda preocupação e repúdio à forma como parte da imprensa local e alguns atores políticos têm tratado o lamentável episódio envolvendo a declaração de óbito de um recém-nascido prematuro extremo em Rio Branco.

O objetivo de certas manifestações públicas — carregadas de acusações precipitadas e julgamentos morais — não parece ser o de buscar justiça ou consolar a família enlutada, mas o de transformar um episódio doloroso em espetáculo e promover uma execração pública das médicas envolvidas, antes mesmo de qualquer apuração técnica e isenta dos fatos. Essa postura fere frontalmente o princípio constitucional da presunção de inocência, garantia fundamental que se aplica a todos os cidadãos, inclusive àqueles injustamente acusados.

Alguns comunicadores chegaram ao absurdo de exigir que as profissionais viessem a público se justificar, insinuando que o silêncio equivaleria à culpa. Tal atitude apenas reforça a tentativa de espetacularizar a dor, ignorando que tanto a família quanto as médicas sofrem com a perda de uma vida.

É necessário recordar que a *Medicina não é uma ciência exata. O desfecho indesejado de um caso não significa, por si só, erro ou negligência. Quando falhas acontecem — e são devidamente apuradas — elas deixam marcas profundas, sobretudo nos próprios médicos, cuja vocação e propósito sempre foram o de *preservar vidas.

Causa perplexidade observar que parte da imprensa, que com frequência preserva a identidade até de acusados de crimes graves, neste caso tenha optado por expor publicamente os nomes das médicas, submetendo-as a um julgamento social devastador e a um sofrimento emocional de proporções incalculáveis.

Perguntamos: alguém se perguntou se o silêncio dessas profissionais não é, na verdade, fruto do medo, da dor e do trauma de já terem sido condenadas socialmente antes mesmo de qualquer processo ético ou judicial?

A sociedade, infelizmente, costuma lembrar dos médicos apenas nos momentos de tragédia. Pouco se fala das vidas salvas, dos plantões exaustivos, dos sacrifícios pessoais e familiares que fazem parte da rotina de quem se dedica a cuidar. Mas basta uma suspeita — ainda que não comprovada — para que recaia sobre o médico um peso desproporcional de críticas e acusações. Nenhuma outra categoria é tão cobrada, tão exposta e tão pouco compreendida.

O Sindicato dos Médicos do Acre reafirma sua solidariedade e apoio incondicional às médicas envolvidas, profissionais de conduta ilibada e de reconhecida competência técnica. Reiteramos também nosso respeito e pesar à família do recém-nascido, que vive um momento de dor incomensurável.

Por fim, conclamamos a imprensa, os gestores públicos e toda a sociedade a agir com responsabilidade, prudência e empatia, permitindo que os fatos sejam devidamente apurados pelas instâncias competentes, sem julgamentos sumários ou execração pública.

Rio Branco, 29 de outubro de 2025
Sindicato dos Médicos do Acre

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