Falar mais de um idioma pode fazer mais do que abrir portas culturais e profissionais — pode também tornar seu cérebro mais jovem. Um estudo nessa segunda-feira (10) na revista Nature Aging, analisou dados de 86.149 pessoas em 27 países europeus e concluiu que a capacidade de falar múltiplas línguas está ligado a um envelhecimento biológico mais lento e a menor risco de declínio cognitivo.
O estudo é assinado por cientistas de universidades do Chile, Colômbia, Argentina e EUA. Os pesquisadores partiram do princípio que as trajetórias de envelhecimento humano são influenciadas por fatores de risco modificáveis, e aprender ou usar várias línguas pode ser um deles.
Para chegar aos resultados, a equipe usou um indicador chamado “lacuna de idade biocomportamental”, que mede a diferença entre a idade cronológica e uma idade “prevista” com base em fatores de saúde, cognição, estilo de vida e condições socioeconômicas. Basicamente, quanto menor for essa lacuna, mais saudável é o envelhecimento. E, consequentemente, menores são os riscos de ela desenvolver quaisquer complicações que prejudiquem a sua saúde a longo prazo.
Amostra sem precedentes
O novo projeto, liderado pelo neurocientista Agustín Ibañez, da Universidade Adolfo Ibáñez, no Chile, integrou fatores positivos, como capacidade funcional, escolaridade e desempenho cognitivo, e fatores adversos, como condições cardiometabólicas e deficiências sensoriais.
Diante desse cenário, os resultados foram claros: o multilinguismo emergiu como um fator de proteção para o cérebro. Nas análises, percebeu-se que falar mais de um idioma reduziu pela metade a probabilidade de envelhecimento acelerado. Por sua vez, o monolinguismo aumentou significativamente esse risco.
Esses efeitos permaneceram mesmo após o ajuste para variáveis linguísticas, físicas, sociais e políticas, o que indica que o benefício está diretamente ligado ao uso e à aprendizagem de idiomas — e não apenas a fatores culturais ou educacionais associados. “Apenas um idioma adicional já reduz o risco de envelhecimento acelerado. Mas quando se fala dois ou três, esse efeito é ainda maior”, explica Ibañez, em entrevista à Nature.
Implicações para a saúde global
A pesquisa reforça a visão de que o multilinguismo deve ser considerado um fator protetor em estratégias globais de saúde. E, por isso, os autores defendem que as políticas educacionais e os programas de envelhecimento ativo devem estimular o aprendizado e o uso de línguas em todas as idades.
“O multilinguismo parece atuar como uma forma natural de ginástica cerebral, fortalecendo circuitos cognitivos e preservando a saúde do cérebro ao longo da vida”, resume Ibañez. Além de uma habilidade cultural que conecta as pessoas a outras realidades, trata-se de uma forma de exercício mental com diversos ganhos – alguns ainda em processo de descoberta.
Por: Revista Galileu








