Atender o telefone, para muita gente, já não é o caminho mais fácil. Segundo a psicóloga Cibele Santos, optar apenas pelo WhatsApp não é sinônimo de má vontade — mas uma forma de gerenciar melhor o tempo, a energia e o estado emocional.
O fenômeno se apoia na chamada telefonofobia, uma forma de ansiedade social ligada ao medo de interações em tempo real. Para Cibele, o centro dessa reação é a perda de controle que uma ligação provoca. “No WhatsApp, você pensa, edita, reescreve. Na chamada, a resposta é imediata, e isso dispara ansiedade”, explica. A imprevisibilidade, diz ela, amplia o medo de errar, gaguejar ou ser julgado pelo tom de voz.
O texto escrito funciona como um ambiente seguro: não há silêncio constrangedor, não é preciso interpretar pistas não verbais e é possível seguir um roteiro mental. “A pessoa controla o ritmo da conversa e reduz a pressão de performance”, afirma a psicóloga.
Jovens preferem WhatsApp do que ligação por voz
Entre jovens, especialmente nativos digitais, a ligação passou a ser vista como invasiva — uma interrupção brusca do fluxo de trabalho ou lazer. A falta de prática reforça a insegurança, criando um ciclo em que a ansiedade cresce justamente porque a pessoa evita ligar.
Mas a preferência pelo aplicativo vai além da ansiedade. Cibele destaca que o WhatsApp possibilita um tipo de comunicação assíncrona, que protege o foco e evita a quebra súbita do que ela chama de estado de fluxo. Assim, cada um escolhe quando gastar energia mental naquela conversa.
Há também o impacto na chamada reserva de energia social. “Uma ligação exige engajamento total: voz, improviso, atenção constante. Isso drena energia”, explica. Já o texto cria uma distância emocional saudável, permitindo que a pessoa use sua energia social de forma mais consciente.
Segundo a psicóloga, no campo emocional, o WhatsApp oferece algo poderoso: regulação. Escrever ou gravar um áudio editável permite organizar ideias e evitar que ansiedade ou irritação transpareçam. Sem a reação imediata do outro, diminui-se um dos maiores gatilhos da telefonofobia.
Para muitos, não atender ao telefone virou, inclusive, um limite. Agendar ligações e recusar chamadas inesperadas é uma forma de afirmar autonomia. “É dizer: ‘Eu decido quando e como me comunico’. Isso fortalece a saúde mental”, conclui Cibele.
No fim, a psicóloga destaca: a escolha pelo WhatsApp não é fuga — é estratégia. Uma forma contemporânea de preservar foco, energia e equilíbrio emocional em um mundo que cobra respostas rápidas demais.
Por: Metrópoles








