O uso contínuo de medicamentos como o omeprazol, indicado para o tratamento de refluxo gastroesofágico e gastrite, pode trazer alguns riscos à saúde — assim como qualquer outro medicamento.
A literatura científica já mostrou que medicamentos da classe dos inibidores de bomba de prótons (IBPs) — como omeprazol, pantoprazol, esomeprazol e lansoprazol, entre outros –, quando usados de forma indiscriminada e prolongada, podem causar deficiências nutricionais, como cálcio, ferro e vitamina B12, o que pode levar a anemia, osteoporose e neuropatia.
Alguns estudos sugerem que o omeprazol e outros medicamentos similares podem levar à demência. Uma pesquisa alemã publicada em 2014 no JAMA Neurology, por exemplo, observou uma possível associação entre o uso prolongado desses remédios e a maior incidência de demência em idosos.
No entanto, especialistas ouvidos pela CNN afirmam que ainda há limitações nesses estudos, e que nenhum trabalho recente comprova essa associação.
“É importante destacar que esses estudos avaliaram populações com múltiplos fatores de risco — idosos, diabéticos, hipertensos, com histórico de AVC [acidente vascular cerebral], etc. Ou seja, eles mostram associação, não prova de causa”, afirma Diogo Haddad, chefe do Centro Especializado em Neurologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
“Alguns trabalhos sugerem que o uso diário dessas medicações por muitos anos pode estar associado a um pior desempenho de memória, mas é importante destacar que o maior risco observado é em idosos. E esse grupo, além de usar bastante esses remédios, geralmente faz uso de múltiplos medicamentos ao mesmo tempo, a chamada polifarmácia, que também pode afetar a memória”, reforça Alessandra Rascovski, endocrinologista e diretora médica da Atma Soma.
O que poderia explicar essa possível relação, de acordo com os especialistas, é a redução da absorção da vitamina B12 causada por esses medicamentos ao diminuir a acidez do estômago. “A deficiência de B12, quando crônica, pode afetar a cognição”, afirma Haddad.
Outra possível explicação é que o paciente que precisa usar omeprazol por muito tempo muitas vezes já tem outras doenças inflamatórias, cardiovasculares ou metabólicas, que por si só aumentam o risco de demência.
No entanto, os especialistas reforçam: os estudos genéticos mais recentes não confirmaram uma relação causal entre o uso de inibidores de bomba de próton e demência.
Quais são os verdadeiros riscos associados ao uso prolongado de omeprazol?
O uso prolongado de quaisquer medicamentos pode trazer riscos e efeitos à saúde. No caso do omeprazol, eles estão relacionados à redução da absorção de vitaminas e minerais, como magnésio e ferro, além de riscos ósseos e maior chance de infecções gastrointestinais.
“Esses efeitos dependem muito do tempo e da indicação: quando bem acompanhado, o risco é muito menor”, afirma Haddad.
Por isso, esses medicamentos devem ser indicados em situações específicas. “Muitas vezes, orienta-se o uso sob demanda. Quem tem sintomas leves e não apresenta doença gástrica grave pode usar o medicamento apenas em momentos de necessidade, após exageros alimentares, consumo de álcool ou episódios de dor”, explica Rascovski.
Como reduzir esses riscos?
Para pacientes que necessitam usar o medicamento por períodos longos, o recomendado é manter acompanhamento médico regular, realizar exames para monitorar níveis de nutrientes e a função renal, além de utilizar a menor dose eficaz, de acordo com Lucas Nacif, cirurgião do aparelho digestivo e diretor médico da clínica Hepatoclin.
“Apesar de os riscos serem menores em pessoas que utilizam o medicamento corretamente, o omeprazol deve sempre ser usado com responsabilidade e sob orientação profissional”, afirma o especialista.
Além disso, o uso da medicação deve vir acompanhado de mudanças na dieta e nos hábitos de vida, além de suplementação quando indicado.
Por: CNN Brasil







