Principal hormônio sexual masculino, e símbolo de força, virilidade e poder, a testosterona se transformou de repente em um poderoso hype entre as mulheres de meia-idade e pós-menopausa. Elas têm usado o hormônio como uma espécie de atalho para recuperar juventude, energia e, principalmente, a libido.
Presente em quantidades bem menores do que nos homens, a testosterona ocorre naturalmente nas mulheres, principalmente pelos ovários e pelas glândulas adrenais. Contudo, os níveis hormonais sofrem uma drástica redução durante a menopausa, causando diminuição do desejo sexual, fadiga, alterações de humor e perda de massa muscular.
Depois que a reposição hormonal feminina se tornou uma espécie de tabu em 2002 — após a Women’s Health Initiative relatar um aumento do risco de câncer de mama, trombose e AVC em mulheres que utilizavam a terapia —, a maioria dos médicos passou a adotar uma posição mais conservadora em relação ao assunto.
Nos consultórios, muitas mulheres com baixo desejo sexual não recebem hoje o tratamento de que precisam, diz a professora Susan Davis, da Universidade Monash, à National Geographic. “Elas vão ao médico e ouvem: siga em frente, é assim mesmo. Você tem 60 anos, o que esperava? Isso é normal para a sua idade”, afirma a pesquisadora.
Mas, o avanço das terapias hormonais e o crescente desejo das mulheres por envelhecer de forma ativa e manter o seu bem-estar físico e emocional levaram muitas clínicas particulares e influenciadores a promover a testosterona como solução para os sintomas de períodos prolongados de pós-menopausa.
Nos últimos anos, tem crescido o número de mulheres com mais de 40 anos que “se jogam” na testosterona. Sem ter um parâmetro — já que a suplementação hormonal não é aprovada para mulheres —, elas acabam experimentando níveis mais altos do que jamais tiveram em suas vidas.
Os efeitos da testosterona são relatados em fóruns e comunidades nas redes sociais. Muitas usuárias descrevem o uso de doses elevadas, e seus depoimentos assumem uma convicção quase mística, como se tivessem encontrado a verdadeira fonte da juventude.
Esses depoimentos costumam mencionar um retorno dramático do desejo sexual, performances inesperadas — que surpreendem até parceiros de longa data —, além de explosões de energia e melhora do tônus muscular. No entanto, esses resultados não são uniformes, e o uso excessivo pode causar efeitos colaterais.
Essas consequências indesejáveis preocupam pesquisadores, como Davis. Para a chefe do Programa de Pesquisa em Saúde da Mulher da Monash Uni, “com a explosão da testosterona nas plataformas de mídia, a maior parte da comunidade médica não está realmente atualizada”, afirma.
A realidade por trás desses discursos apoteóticos é que ainda não existe na literatura médica uma comprovação robusta de ganhos reais em energia, humor ou força com o uso de testosterona por mulheres. Para Davis, não há evidências de que a terapia seja mais eficaz do que um placebo.
Testosterona com moderação: o que a ciência realmente confirma
As mulheres já iniciam a vida adulta com níveis de testosterona naturalmente mais baixos do que os homens, e essa diferença se acentua com a idade. A queda se torna mais expressiva depois da menopausa, quando o organismo passa a reduzir drasticamente a produção do hormônio.
Estudos indicam que restaurar a testosterona a patamares semelhantes aos do fim dos 30 anos — considerados fisiológicos — pode reavivar o desejo sexual em mulheres na pós-menopausa, sem provocar efeitos adversos relevantes. Mas especialistas alertam que acompanhamento médico é essencial para evitar superdosagens hormonais.
Atualmente, o único uso cientificamente comprovado de testosterona em mulheres é no tratamento da baixa libido após a menopausa — conhecido como Transtorno do Desejo Sexual Hipoativo (TDSH). “Todos os estudos, independentemente do tamanho, mostram benefícios em relação ao placebo”, diz Davis.
O problema é que, no atual hype, algumas mulheres estão usando testosterona em quantidades muito acima do recomendado, cerca de três ou quatro vezes maiores que o considerado seguro. Algumas já apresentam queda de cabelo, voz grossa, pelos faciais e aumento do clitóris, efeitos colaterais que podem não ser reversíveis.
Por isso, especialistas alertam que, embora o desejo de aliviar os sintomas da pós-menopausa seja legítimo — e mereça atenção médica — o uso da testosterona sem acompanhamento adequado pode ser arriscado. Doses fora do controle clínico podem causar danos permanentes.
Falando à National Geographic, a médica Nora Lansen, da plataforma de saúde digital Elektra Health, explica que hoje existem várias opções para tratar a baixa libido e os sintomas da menopausa — de terapias com estrogênio a medicamentos não hormonais. “É ótimo que essa conversa esteja em destaque, e que tantas pessoas estejam falando sobre isso”, conclui.
Por: CNN Brasil






