O coronel da reserva da Polícia Militar do Acre Romário Célio Barbosa Gonçalves sempre soube que precisava se cuidar. Por parte de pai, a incidência de câncer de próstata era muito alta, segundo contou ao portal A GAZETA. Quando a pandemia da Covid-19 suspendeu rotinas e prioridades, ele também deixou os exames para depois. “Eu digo que eu e 220 milhões de brasileiros cuidamos só da pandemia.”
Quando o Antígeno Prostático Específico (PSA) voltou alterado, em 2023, ele entendeu que a batalha seria outra — daquelas que exigem disciplina, coragem e fé. “Eu aprendi a raciocinar sob pressão. Parei e disse pra mim mesmo: temos um problema, temos uma batalha. E essa será mais uma que nós vamos vencer, cruzar o rio do outro lado e cantar o hino da vitória”, explicou.

Para Romário, quem não tem medo, é irresponsável consigo mesmo e com a vida das pessoas. “O medo você deve enfrentar e resolver”, disse, acrescentando ainda que manter a rotina foi parte do tratamento que o fortaleceu. “É fundamental preservar a rotina. Trabalho, estudo, confraternização. A diferença é que você passa a ver tudo isso com mais intensidade, com muito mais importância.”
Ele também destaca o papel essencial da família. “Minha esposa, meus cinco filhos, meus netos — na época eram oito, daqui a pouco terei o nono — foram fundamentais pra mim”, refletiu.

O câncer de próstata é o tipo mais comum entre os homens brasileiros, depois dos tumores de pele não melanoma e, quando diagnosticado cedo, as chances de cura ultrapassam 90%. Mesmo assim, muitos homens ainda evitam procurar ajuda médica — seja por desinformação, seja por preconceito.
Romário resume esse comportamento em uma frase. “A gente não deve procrastinar. Tem que partir pra cima e resolver o quanto antes”.
Nova luta
Romário ainda contou que recebeu o diagnóstico de câncer de próstata no dia 5 de fevereiro de 2022; após fazer a remoção do tumor, e já curado, teve um segundo susto. “Quando foi no dia 18 de setembro de 2023, eu também fiz uma cirurgia de câncer de colorretal. E nos dois casos foi: descobrir, vamos partir pra cima, vamos vencer isso, agora! Não procrastinar a doença”.
Ele enfatizou ainda que há um pacto familiar. “Estamos juntos, vamos encarar isso de frente e vamos vencer todos juntos. Não meramente de mãos dadas, mas de mãos dadas e ombros unidos. E foi assim que nós fizemos”.
Novembro Azul no Acre: números que falam
Nos últimos cinco anos, os diagnósticos de câncer de próstata mais que dobraram no Acre: passaram de 37 casos em 2020 para 85 até julho de 2025, um número 2,2 vezes maior. O acesso ao diagnóstico voltou a crescer após a pandemia, especialmente com a reativação do serviço de biópsia de próstata na Fundhacre em 2024, medida considerada decisiva por especialistas.
Além disso, o Mutirão Novembro Azul, marcado para 15 de novembro na Fundhacre, vai ofertar consultas e exames gratuitos, incluindo urologia, cardiologia, odontologia, PSA e orientações de autocuidado – tudo pelo SUS. A ideia é simples: se aproximar dos homens antes que a doença o faça.
“Não espere sentir dor”
Romário descobriu algo que deseja que todos descubram sem precisar sofrer. “A doença nos iguala. Não importa o cargo, a instrução, o dinheiro. Nessas horas aflora o nosso lado humano, e você começa a ter mais empatia, a sentir a dor dos outros”.
Por isso, se tivesse que dar uma ordem de comandante aos homens acreanos neste Novembro Azul, ele já tem a frase pronta. “Não espere sentir dor. Vá ao médico. A vitória é para quem não foge da luta”.










