“Hoje lembramos não apenas o que aconteceu, mas quem ela era.” No primeiro ano da morte de Joyce Sousa de Araújo, de 41 anos, que faleceu no Instituto de Traumatologia e Ortopedia (Into) após meses de violência psicológica praticada pelo companheiro, a irmã, Jaqueline, fez um desabafo nas redes sociais. “Sua morte não pode ser lida como escolha, e sim como consequência”, afirmou nesta segunda-feira, 17, ao divulgar a missa que será celebrada às 19 horas, na Catedral Nossa Senhora de Nazaré.
Joyce morreu em 17 de novembro de 2024. Ainda no ano passado, a irmã e a filha da vítima, Duda Cavalcante, fizeram uma live nas redes sociais em que expuseram detalhes do relacionamento abusivo que ela enfrentava. Segundo a família, Joyce era submetida a controle extremo e obrigada a compartilhar sua localização constantemente, já que o companheiro, Thiago Augusto Borges, residente em outro estado, a impedia até de realizar tarefas simples do dia a dia, como fazer as unhas ou cuidar de si mesma.

Além disso, segundo relatos da família, Thiago manipulava as finanças da vítima, utilizando o dinheiro dela para comprar celulares, um cachorro e até um carro. A liberdade de Joyce teria sido completamente anulada, e ela passou a viver sob tortura emocional. O ex-companheiro também fazia apologia ao satanismo direcionada a ela, lançava acusações caluniosas e chegou a importunar sexualmente uma sobrinha da vítima, episódio que deixou a família em choque.
Duda e Jaqueline revelaram ainda que Joyce deixou três cadernos, além de mensagens, fotos, vídeos e áudios que registram o tormento que vivia. Entre as evidências, há vídeos de Joyce chorando e um pedido que ela fez a uma amiga: “Guarda, você vai precisar.”
Para a irmã e a filha, a tragédia que tirou a vida de Joyce não pode ser explicada apenas como depressão, mas como resultado de um padrão sistemático de abuso. Segundo os depoimentos, Joyce era constantemente vigiada, obrigada a compartilhar sua localização e impedida de realizar tarefas pessoais simples, tudo sob a justificativa de “proteção”.
Investigação
Poucos dias após a morte de Joyce, o Ministério Público do Estado do Acre (MPAC) se reuniu com a irmã e a filha para prestar apoio e discutir os desdobramentos da investigação. A procuradora Patrícia Rêgo, coordenadora-geral do Centro de Atendimento à Vítima e do Observatório de Gênero, conduziu as conversas e confirmou a designação de dois promotores para acompanhar o caso com atenção especializada.
Em reuniões posteriores, o MPAC também dialogou com a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), reforçando a importância de uma investigação cuidadosa e de acolhimento adequado à família.

Lei proposta em nome de Joyce
A morte da acreana também repercutiu no Congresso. A deputada federal Socorro Neri apresentou o PL 552/2025, batizado de “Lei Joyce Araújo”, que propõe triplicar a pena para quem induzir alguém ao suicídio no contexto de relacionamentos tóxicos ou por estelionato sentimental. O projeto cria um agravante específico no Código Penal para crimes cometidos em relações marcadas por manipulação emocional intensa.

Para a parlamentar, o caso expõe uma urgência. “Relações tóxicas e manipulações afetivas podem ter impactos devastadores sobre a saúde mental das vítimas”, afirmou.
Na postagem desta segunda-feira, Jaqueline destacou que Joyce não está mais aqui, mas o que ela viveu precisa estar. “Hoje honramos sua vida. E nos comprometemos com a verdade, com a justiça e com a construção de um mundo que proteja mulheres de violências que ainda não têm nome, mas já têm vítimas”, finalizou.








