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Você sabia? Tratado de Petrópolis influenciou até o desenho da bandeira do Acre

Você sabia? Tratado de Petrópolis influenciou até o desenho da bandeira do Acre

Foto: Sérgio Vale/Arquivo pessoal

Você sabia que o Tratado de Petrópolis, responsável por oficializar a incorporação do Acre ao Brasil, também influenciou diretamente o desenho da bandeira acreana? A informação é do historiador Marcos Vinícius Neves, que detalhou ao portal A GAZETA como o símbolo do Estado nasceu de antigos tratados, da Revolução Acreana e até de uma mudança inesperada feita décadas depois.

Segundo Neves, a bandeira atual é resultado de uma soma de referências políticas e históricas. “A bandeira do Acre foi inspirada pelos tratados de limites, não só o Tratado de Petrópolis, mas também os dois anteriores que definiram a fronteira”, explica. Ele cita o Tratado de Madrid, de 1650, que estabeleceu uma linha reta imaginária; o Tratado de Ayacúcho, de 1867, que trouxe uma linha oblíqua; e a proposta defendida pelos revolucionários acreanos, que sugeriam uma nova linha reta ao sul.

“Com isso, a gente teve uma linha reta acima, uma linha oblíqua no meio e outra linha reta abaixo. [Luis] Galvez, quando olhou isso, criou a fronteira do Acre na bandeira e acrescentou a estrela vermelha, simbolizando a Revolução Acreana”, afirma. A estrela, além disso, é inspirada na simbologia da Revolução Francesa, reforçando o caráter de luta e resistência.

Você sabia? Tratado de Petrópolis influenciou até o desenho da bandeira do Acre
Bandeira do Acre original. Foto: cedida

A bandeira criada por Gálvez e guardada por décadas no Rio de Janeiro

O historiador reforça que a primeira versão da bandeira foi criada por Luís Galvez, autoproclamado presidente da República do Acre, a partir de 14 de julho de 1899. “Essa bandeira original foi criada enquanto ele era presidente do Estado Independente do Acre”, afirma Neves.

Confeccionada na antiga Porto Alonso – rebatizada por Galvez como Cidade do Acre – a peça histórica foi guardada no Museu da República, no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, onde permaneceu por décadas. Em 2004, durante a revitalização do Palácio Rio Branco, a bandeira foi trazida ao Acre por empréstimo e entrou em exposição pública.

A Diagonal invertida por ‘questão estética’

Neves destaca que a diagonal presente na bandeira original seguia o mapa do Acre da época. Mas isso mudaria em 1920, quando o estado passou a ser governado por um único administrador do Território Federal, Epaminondas Jácome, também participante da Revolução Acreana.

Você sabia? Tratado de Petrópolis influenciou até o desenho da bandeira do Acre
Atual bandeira do Acre Foto: Pedro Devani/Secom

“Ele achava que a bandeira era feia porque a estrela vermelha ficava na diagonal, lá em cima, no encontro das duas linhas”, conta o historiador. A solução encontrada foi simples e drástica: inverter a diagonal. “Ele manda inverter e ela passa a ficar ao contrário, mas mantém a estrutura da simbologia criada por Galvez”, completa.

Quem vê a bandeira acreana pensa que é apenas isso: uma bandeira. Ocorre que ela é um resultado de uma combinação de tratados internacionais, revolução local, intervenção política e detalhes estéticos, representando um símbolo muito além do verde, amarelo e vermelho que estampam o tecido: é, na verdade, quase que a história do Estado, contada pelo bom uso da semiótica.

Tratado de Petrópolis

O Tratado de Petrópolis, assinado em 17 de novembro de 1903, em Petrópolis (RJ), encerrou definitivamente a disputa entre Brasil e Bolívia pelo território acreano. Pelo acordo, a Bolívia vendeu o Acre ao Brasil, enquanto o governo brasileiro, em contrapartida, cedeu áreas na bacia do rio Paraguai, como a região da Bahia Negra, além do Triângulo do Abunã.

O tratado também obrigava o Brasil a construir a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, oferecendo à Bolívia uma rota segura para escoar suas mercadorias até o rio Amazonas. Além disso, o país se comprometeu a pagar 2 milhões de libras esterlinas — valor que hoje equivaleria a cerca de 2,3 bilhões de reais, segundo o pesquisador — como indenização pela quebra do contrato de arrendamento firmado em 1901 entre o governo boliviano e o Bolivian Syndicate, um consórcio norte-americano.

 

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