O presidente da Federação Acreana de Ciclismo (FAC), Tuxaua Marques, relatou, nesta segunda-feira, 3, um episódio que retrata as dificuldades sofridas diariamente por ciclistas nas ruas de Rio Branco.
Há 15 dias, enquanto ele pedalava, um motorista passou muito perto dele e, após ouvir a reclamação do ciclista sobre a manobra perigosa, o condutor parou o carro, sacou uma pistola e perguntou se o atleta queria morrer.
“Isso mostra o quanto o desrespeito contra nós tem crescido”, lamentou, durante audiência pública sobre segurança e políticas públicas voltadas ao ciclismo, realizada na Assembleia Legislativa do Acre (Aleac).
Proposto pelo deputado estadual Afonso Fernandes, do Solidariedade, o evento contou com a participação de representantes do Departamento Estadual de Trânsito (Detran/AC), Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (RBTrans) e Polícia Rodoviária Federal no Acre (PRF/AC).
Caso Maurinho
Também esteve na audiência a família do jovem ciclista acreano Mauro Henrique Medeiros, o Maurinho, morto em setembro deste ano em um acidente com caminhão enquanto pedalava, no interior de São Paulo.
Tuxaua aproveitou a oportunidade para prestar homenagem ao colega de pedal. “O Maurinho era um garoto de 18 anos, cheio de sonhos, que foi para São Paulo tentar uma vida melhor por meio do ciclismo. Ele se tornou um atleta promissor, disciplinado e exemplo para muitos. A dor da sua perda representa a luta de todos os ciclistas acreanos por mais respeito e segurança nas estradas”, concluiu o presidente da Federação de Ciclismo.

A mãe do jovem fez um discurso emocionado e pediu justiça pela morte do filho. “A minha dor não é só minha, é de várias mães, pais e irmãos que perderam quem amavam. Educação no trânsito começa na escola. Um aluno do Detran sai de lá sabendo a distância que deve manter de um ciclista, mas muitos não respeitam. A lei existe, a multa existe, mas o que vale uma vida diante de R$130 e quatro pontos na carteira? ”, questionou.
Com a voz embargada, ela continuou: “Meu filho tinha 18 anos, era atleta, o primeiro da categoria dele a ganhar uma medalha de ouro no Nordeste. Ele sonhava alto, e eu deixei ele seguir esse sonho porque queria vê-lo feliz. Hoje, peço que lutem pela vida, porque a vida precisa ter valor”.
A realidade do ciclismo
Rio Branco hoje conta com uma malha cicloviária de quase 90 quilômetros, sendo a maior parte dela sob responsabilidade da prefeitura. O coordenador de Acessibilidade e Mobilidade Urbana da RBTrans, Rômulo Ariel, destacou que existe um plano para revitalizar as ciclovias e ciclofaixas da capital.

Ele reconhecendo as dificuldades na estrutura e a necessidade de investimentos nessas vias. “Sabemos que há uma carência grande de revitalização e pavimentação das nossas ciclovias, mas não depende apenas da RBTrans. Trabalhamos em conjunto com a Seinfra e a Emurb, responsáveis pela implantação e sinalização horizontal e vertical, e colocamos sempre o ciclista como prioridade”, disse o gestor.
Segundo dados da PRF, nos últimos três anos foram registrados 37 ocorrências de acidentes envolvendo ciclistas no Acre, com quatro mortes. “Esses números, que podem parecer pequenos, representam vidas e refletem a urgência de medidas preventivas. Muitas vezes, esses acidentes decorrem não apenas da falta de infraestrutura, mas também do comportamento humano, da falta de respeito e de consciência no trânsito”.







