Cientistas há muito tempo destacam os benefícios da prática de exercícios desde cedo para reduzir o risco de degeneração cerebral no futuro. Mas uma nova pesquisa sugere que, mesmo após os 45 anos, ainda não é tarde demais para começar.
O estudo, publicado em novembro na revista JAMA Network Open, descobriu que os níveis mais altos de atividade física na meia-idade e na vida tardia foram associados a uma redução de 41% e 45% no risco de demência, respectivamente. A meia-idade foi definida como o período entre 45 e 64 anos, enquanto a vida tardia compreende dos 65 aos 88 anos.
“Este estudo muda a conversa de ‘exercício é bom para o cérebro’ para ‘podem existir períodos-chave em que o exercício é mais importante para a saúde cerebral'”, afirmou a Sanjula Singh, professora de neurologia da Escola de Medicina de Harvard e investigadora principal dos Laboratórios de Cuidados Cerebrais do Hospital Geral de Massachusetts em Boston. Ela não participou do estudo.
Com uma estimativa de 57 milhões de pessoas com demência em todo o mundo e a expectativa de que esse número quase triplique até 2050, os autores “queriam investigar se o impacto da atividade física no risco de demência diferia ou permanecia consistente ao longo da vida adulta”, explicou por e-mail Phillip Hwang, autor principal do estudo e professor assistente no departamento de epidemiologia da Escola de Saúde Pública da Universidade de Boston.
Uma limitação deste estudo é que ele não pode sugerir quanto exercício fazer devido à medida utilizada pelos pesquisadores, disse Hwang. Foi “uma medida composta baseada no número de horas que uma pessoa passa dormindo, em comportamento sedentário e realizando atividades leves, moderadas e intensas em um dia”, acrescentou. “No entanto, encontrar maneiras de ser mais ativo e se movimentar é importante.”
As descobertas de Hwang são também confirmadas por outros estudos que sugeriram orientações mais específicas. Uma pesquisa de 2022 descobriu que pessoas que caminhavam apenas 3.800 passos por dia reduziam seu risco de demência em 25% e, em geral, quanto mais passos os participantes davam, maiores eram os benefícios.
O uso da bicicleta como meio de transporte, em vez de carro, ônibus ou trem, foi associado a uma redução de 19% no risco de demência e 22% no risco de desenvolver Alzheimer.
“Considerando o que já se sabe sobre os benefícios da atividade física em outras condições — como coração, humor, estresse etc., que também estão relacionadas ao cérebro e à cognição — existem muitas outras razões para ser mais ativo”, afirmou Hwang por e-mail.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, adultos precisam de pelo menos 150 a 300 minutos de atividade aeróbica moderada ou 75 a 150 minutos de exercício aeróbico vigoroso por semana.
Esses exercícios podem ser, por exemplo, 150 minutos de caminhada rápida, 75 minutos de corrida vigorosa ou ciclismo, e treino de força algumas vezes por semana, explicou Singh. Ele faz parte da equipe que desenvolveu o Brain Care Score, uma avaliação de 21 pontos que mede como uma pessoa se comporta em relação a fatores físicos, de estilo de vida, sociais e emocionais que podem ser modificados para proteger a saúde cerebral.
Para quem está começando a se exercitar, Raphael Wald, neuropsicólogo do Instituto de Neurociência Marcus do Baptist Health South Florida, recomenda iniciar com treinos mais lentos ou mais curtos e aumentar gradualmente a intensidade. “Começar de forma muito agressiva pode levar a lesões ortopédicas, que podem limitar sua capacidade de se exercitar”, acrescentou Wald por e-mail.
Desenvolva hábitos consistentes que possam garantir que você se mantenha ativo diariamente, aconselhou Wald, como caminhar por 20 minutos antes do trabalho ou fazer uma pequena pausa para se movimentar durante o almoço.
Monitoramento da atividade e risco de demência
As descobertas do novo estudo são baseadas em 1.526 participantes no início da vida adulta — entre 26 e 44 anos —, quase 2.000 adultos de meia-idade e cerca de 900 idosos, majoritariamente brancos, que faziam parte do estudo de longo prazo Framingham Heart Study.
Os pesquisadores descobriram que os níveis de atividade física no início da vida adulta não foram associados ao risco de demência em nenhuma direção. Também constataram que, mesmo para idosos que possuíam o fator de risco genético mais forte para a doença de Alzheimer — o gene APOE ε4 —, a alta atividade física ainda estava ligada a um risco 66% menor de demência.
O estudo apresenta limitações importantes, segundo especialistas. “Pessoas mais ativas também podem adotar outros comportamentos saudáveis, ter melhor saúde inicial ou apresentar diferenças que os pesquisadores não conseguiram medir completamente”, afirmou Singh.
A equipe reconheceu que não tinha detalhes sobre os níveis de atividade física dos adultos de meia-idade e idosos durante sua vida adulta inicial ou como os hábitos mudaram ao longo do tempo, fatores que também poderiam influenciar o risco de demência. Singh ressaltou que os participantes podem avaliar incorretamente seus níveis de atividade, por isso estudos com dispositivos rastreadores seriam uma forma mais objetiva de medir o exercício.
Especialistas explicam que existem alguns fatores que podem justificar por que a meia-idade e a vida adulta tardia são possivelmente períodos extras críticos para a saúde cerebral.
“O exercício desempenha um papel fundamental na manutenção da saúde vascular”, disse Wald. “Os fatores de risco vasculares mais comuns — pressão alta, diabetes tipo 2, doenças da tireoide e colesterol alto — tendem a surgir na meia-idade e na vida adulta tardia. É lógico que o exercício durante esses períodos teria o maior impacto na redução do risco de demência.”
Acredita-se que a atividade física também reduza o risco de demência ao melhorar a estrutura e função cerebral, aliviar a inflamação e retardar o acúmulo de proteínas beta-amiloides no cérebro, explicou Hwang. Este último é um sinal característico da doença de Alzheimer.
Se você está reconsiderando seus hábitos de exercício e outros fatores de risco para demência, Wald ressalta que é essencial manter o equilíbrio e conversar com seu médico sobre todos os fatores envolvidos.
Por: CNN Brasil