Árvores caídas, pessoas sendo arrastadas pela força do vento, correntezas fortes e caos pela cidade. Esse foi o cenário vivido pelos moradores de São Paulo (SP) na última quarta-feira (10), quando rajadas de vento a quase 100 km/h atingiram a capital.
Para além dos prejuízos materiais– como tetos caídos e janelas quebradas – a intensidade da circulação do ar é igualmente preocupante para quem está lá em cima, nos aviões (ou tentando embarcar). Mas, como ocorrem – se é que acontecem – as decolagens e aterrissagens em condições meteorológicas como essa?
Antes disso, é essencial que os pilotos compreendam como o tempo afeta o voo enquanto eles “navegam” pela estratosfera. Eles não precisam ter uma formação em meteorologia, mas quanto mais souberem sobre o assunto, mais seguros estarão para voar.
É possível decolar com ventos fortes?
Assim como as chuvas quase nunca impedem um voo seguro, ventos fortes também não. Os aviões mais modernos já foram projetados e construídos de modo a terem um bom desempenho em situações adversas como as fortes rajadas de ar. Mas, também cabe ao piloto se manter atualizado sobre não somente as condições meteorológicas, mas também sobre como as interpretar.
Na maioria dos casos de ventos fortes, os pilotos conseguem decolar e aterrissar o avião. O que acontece é que todo voo enfrenta a intensidade do ar em algum momento da subida ou da descida. Geralmente, é apenas o atraso no horário de decolagem ou de aterrissagem que acaba por ser afetado, não é a estrutura nem a integridade do veículo.
Por outro lado, existem limitações. Ventos horizontais – conhecidos como “ventos cruzados” – entre 55 e 65 km/h podem afetar a decolagem e o pouso. Em casos que as rajadas estejam acima desse intervalo de valores, o avião pode até mesmo precisar se arremeter.
É tão importante para os pilotos que a direção e a velocidade do vento sejam os primeiros itens no boletim meteorológico. A direção do vento determina qual pista usar em um aeroporto, uma vez que as aeronaves devem decolar e pousar contra o vento o tanto que for possível.
Além dos ventos da superfície, os pilotos também precisam levar em consideração os ventos em diferentes altitudes para planejarem o melhor voo possível. Isso porque, devido ao terreno e outros fatores, os ventos na superfície apresentam velocidades e direções variadas.
Dentre as diferentes camadas e “rios” de ar que formam a atmosfera, formam-se as correntes de jato, que é uma faixa estreita de ventos fortes e rápidos que circulam na troposfera. Elas surgem devido à diferença de temperatura entre regiões equatoriais quentes e polares frias, fluindo de oeste para leste e podendo superar a marca de 300 km/h.
Neste cenário, a força das correntes de jato influenciam nos voos rumo ao oeste, uma vez que estes precisam “nadar contra a correnteza”. Os voos rumo ao leste, por outro lado, são beneficiados e contam com o que os meteorológicos chamam de “vento de cauda”, como se realmente o ar os tivessem empurrando para o sentido correto.
Não a toa, a decisão de muitas companhias em cenários como as ventanias que atingiram São Paulo é por cancelar ou, quando for possível, atrasar voos até que as condições para decolagem e navegação estejam mais favoráveis.
Por Revista Galileu






