Uma estrela que morreu há cerca de 3 bilhões de anos acaba de oferecer uma das pistas mais intrigantes já registradas sobre interações extremas entre buracos negros. Em um estudo publicado na revista The Innovation, uma equipe internacional de pesquisadores divulga o que dizem ser o “grito” energético de uma estrela despedaçada não por um, mas dois buracos negros supermassivos.
O fenômeno, como reportado pela Live Science na última quarta-feira (10), foi associado à fonte de raios-X XID 925, detectada em 1999 no levantamento Deep Field South do Observatório de Raios-X Chandra. Já à época, o objeto intrigou a comunidade científica por apresentar o que se tornaria a mais fraca erupção de raios-X variável conhecida, um comportamento que motivou seu monitoramento nos próximos anos.
Comportamento atípico
O registro inicial mostrava um ponto brilhante de radiação de alta energia. Mas, com o tempo, o sinal foi se apagando, até atingir apenas 2,5% de seu pico original. O comportamento se alinhava ao esperado para um evento de ruptura de maré (TDE), caracterizado pelo despedaçamento de uma estrela que se aproximou demais de um buraco negro supermassivo.
Geralmente, o material estelar nesse tipo de evento forma um disco de acreção extremamente quente ao redor do buraco negro, emitindo intensos feixes de raios X antes de desaparecer gradualmente conforme o gás é consumido. Contudo, o XID 925 fugiu completamente desse padrão.
Entre janeiro e março de 1999, seu brilho aumentou repentinamente 27 vezes, para depois despencar tão rápido quanto havia surgido. Tal comportamento abrupto excedia o esperado para TDEs típicos. E foi esse desvio que levou os pesquisadores a desenvolver uma hipótese ainda mais ousada.
Segundo buraco negro
O novo estudo sugere que o evento não envolveu apenas um buraco negro supermassivo, mas um par deles. Essa configuração de astros formaria um sistema binário no coração de uma galáxia jovem.
Nesse cenário, o buraco negro principal teria rasgado a estrela e formado o disco de acreção normalmente observado em TDEs. Porém, um segundo buraco negro, menor, teria passado próximo desse disco ou até mesmo o atravessado. A intrusão teria desencadeado um choque gravitacional capaz de liberar uma explosão súbita de raios-X, explicando o aumento de brilho atípico notado em1999.
Uma analogia apresentada pelos cientistas compara o episódio a um carro desgovernado invadindo a cena de um acidente já em andamento. Após a passagem do segundo buraco negro, o sistema teria se estabilizado e retornado ao processo gradual de escurecimento.
Implicações do achado
Embora os autores enfatizem que o modelo não soluciona todos os elementos observados, defendem ser ele o cenário mais convincente diante dos dados atuais. Se confirmado, o XID 925 se tornará o evento de ruptura de maré envolvendo um sistema binário de buracos negros mais distante já registrado.
Na prática, isso pode ampliar significativamente o entendimento sobre as dinâmicas violentas que ocorrem nos núcleos galácticos primordiais. Para a astrofísica contemporânea, o possível feito não é apenas um registro histórico, trata-se de uma rara oportunidade para investigar, em detalhe, como buracos negros interagem entre si e com as estrelas que se aventuram perigosamente perto deles.
Por Revista Galileu






