O dia 31 de dezembro parece uma escolha natural para encerrar o ano, mas essa data é resultado de decisões políticas, religiosas e administrativas tomadas em diferentes períodos da história. A forma como o tempo é organizado nem sempre seguiu um padrão e já passou por várias reformulações até chegar no modelo usado atualmente.
Antes de existir um calendário unificado, cada povo interpretava o início e o fim de um ciclo de acordo com suas tradições, observações da natureza ou necessidades agrícolas. A virada do ano, portanto, variava bastante entre civilizações antigas e nem sempre correspondia a um evento astronômico específico. O formato moderno só ganhou destaque com os romanos.
Reforma de Júlio César e o dia 31 de dezembro
Em 46 a.C., Júlio César, líder político e militar da Roma Antiga, decidiu reorganizar a contagem dos meses e dos dias. Com o apoio de estudiosos da época, Roma adotou um calendário solar de 365 dias divididos em 12 meses.
Para corrigir a diferença entre o tempo marcado no calendário e o tempo real do movimento da Terra, foi criado o ano bissexto — com um dia extra a cada quatro anos.
A necessidade desse ajuste vinha de um atraso que se acumulou no modelo anterior: o calendário não acompanhava com precisão o ciclo solar, fazendo com que as datas fossem se “deslocando” ao longo das estações. Com o novo sistema, Roma aproximou o calendário do ritmo natural do ano solar.
Com a nova organização, o ano passou a terminar oficialmente em 31 de dezembro, e o início do ciclo foi fixado em 1º de janeiro. A data escolhida marcava a posse dos cônsules, autoridade máxima da política romana.
“Antes da padronização romana, diversas sociedades estruturavam seus calendários a partir de ciclos naturais, como colheitas, variações climáticas ou solstícios, o que criava datas de virada de ano muito diferentes entre si”, explica Heitor Neto, professor de história do Sistema de Ensino Equipe, em Belém.
A adoção desse sistema substituiu calendários anteriores, que eram irregulares, não tinham todos os meses definidos e dependiam de decisões políticas ou religiosas. À medida que o Império Romano expandiu seu território, o novo calendário se espalhou pela Europa Ocidental e se tornou referência para diversos povos.
Por que o calendário romano se tornou tão influente?
Com a expansão territorial, o Império Romano levou seu modo de organizar o tempo para os povos que dominava, regiões que hoje correspondem à Itália, França, Inglaterra e Espanha.
Esses grupos, que tinham calendários próprios, passaram gradualmente a adotar o sistema romano por uma questão prática, já que era o calendário oficial do poder político, militar e administrativo.
Na Idade Média, porém, essa convivência entre tradições diferentes gerou divergências sobre como marcar o início e o fim do ano, além de datas religiosas importantes. A unificação só avançou de fato quando a Igreja decidiu intervir para padronizar a contagem do tempo.
“A Igreja buscava alinhar práticas distintas e corrigir o afastamento da Páscoa em relação ao equinócio. Esses ajustes fortaleceram a adoção do calendário romano e consolidaram o 31 de dezembro como data de encerramento anual”, destaca o professor de história Alexandre de Carvalho, do Colégio Objetivo de Brasília.
Intervenção da Igreja e o ajuste do calendário
Em 1582, já na Idade Moderna, uma nova mudança reorganizou a contagem dos dias. A Igreja percebeu um erro no calendário juliano que fazia com que datas importantes ficassem fora de alinhamento com fenômenos naturais, como os solstícios e os equinócios.
Essas datas serviam de referência para definir eventos religiosos, especialmente a Páscoa. Por isso, para corrigir esse atraso, o papa Gregório 13 criou o calendário gregoriano, uma nova forma de medir o tempo e o modelo utilizado pela maior parte do mundo até hoje, incluindo o Brasil.
A reforma preservou o encerramento do ano em 31 de dezembro, mas estabeleceu regras mais precisas para calcular os anos bissextos e reorganizou a distribuição dos meses, garantindo uma aproximação maior com o movimento real da Terra em torno do Sol.
Embora ainda existam calendários religiosos e culturais usados paralelamente, como o chinês e o hebraico, o encerramento do ano em 31 de dezembro permanece como padrão. Hoje, a data organiza desde feriados até ciclos fiscais e estatísticos.
Por Metrópoles