Os miados são a principal forma de comunicação dos gatos com os humanos. Eles pedem comida, atenção, reclamam e até “conversam” com seus donos. Contudo, um novo estudo publicado em 10 de dezembro na revista Scientific Reports indica que o ronronar dos felinos carrega mais informações sobre a identidade individual deles do que os miados.
“As pessoas prestam mais atenção aos miados porque os gatos usam essas vocalizações principalmente para se comunicar conosco”, explica Danilo Russo, o primeiro autor do estudo, em comunicado. “Mas, ao examinarmos a estrutura acústica de perto, descobrimos que o ronronar uniforme e rítmico era a melhor pista para identificar gatos individualmente.”
A pesquisa mostra que, enquanto o miado varia conforme o contexto e a intenção do gato, o ronronar se mantém estável e funciona como uma espécie de assinatura vocal. “Cada gato em nosso estudo tinha seu próprio ronronar característico”, diz Anja Schild, a coautora da pesquisa.
A equipe analisou características acústicas de miados e ronrons e concluiu que o ato de ronronar é mais eficaz para diferenciar um gato de outro. O resultado reforça a influência da domesticação na comunicação felina e ajuda a explicar por que os gatos desenvolveram miados tão flexíveis para interagir com humanos.
Comunicação moldada pela convivência com humanos
Os gatos começaram a ser domesticados há cerca de 10 mil anos no Oriente Médio. Diferentemente de outros animais domesticados, eles mantiveram grande parte de seus comportamentos naturais, mas adaptaram sua comunicação vocal à convivência com pessoas.
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Entre gatos, o miado é relativamente raro e costuma aparecer em situações específicas, como disputas territoriais, atração de parceiros ou em filhotes. Já na relação com humanos, o som ganhou destaque. Ao longo do processo de domesticação, os gatos passaram a variar duração, frequência e entonação dos miados para chamar atenção, pedir comida ou expressar desconforto.
O ronronar segue um caminho distinto. Trata-se de um som de baixa frequência, associado a interações sociais e estados de calma. Ele também pode surgir em situações de estresse ou dor, possivelmente como forma de autorregulação. Do ponto de vista acústico, é mais constante e menos influenciado pelo contexto emocional imediato.
Como o estudo foi feito
Os pesquisadores gravaram vocalizações de 27 gatos domésticos entre 2020 e 2021. Os miados foram registrados quando os animais buscavam comida ou atenção humana; os ronrons, durante momentos de contato físico, como carícias.
Em seguida, a equipe aplicou métodos usados no reconhecimento automático da fala humana para testar se um sistema computacional conseguiria identificar cada gato apenas pelo som. Tanto miados quanto ronrons puderam ser reconhecidos individualmente, mas o desempenho foi significativamente melhor com os ronrons.
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“Os miados chamam mais a atenção porque são usados principalmente na comunicação com humanos”, afirmou Danilo Russo, ecólogo da Universidade de Nápoles Federico II e autor principal do estudo. “Mas, quando analisamos a estrutura acústica em detalhe, o ronronar constante se mostrou mais eficiente para identificar indivíduos.”
Diferenças entre gatos domésticos e selvagens
A pesquisa também comparou miados de gatos domésticos com vocalizações de cinco espécies selvagens, incluindo o gato-bravo-africano, o gato-bravo-europeu, o gato-da-selva, o guepardo e o puma. Os dados vieram do arquivo de sons do Museu de História Natural de Berlim.
A análise mostrou que os miados dos gatos domésticos apresentam uma variabilidade muito maior do que os dos felinos selvagens. Para os pesquisadores, isso indica que a domesticação favoreceu gatos capazes de ajustar seus miados às respostas humanas.
Segundo a equipe, o ronronar tende a refletir características físicas do trato vocal, formando um perfil acústico individual relativamente estável. Já o miado funciona como uma ferramenta flexível, usada para provocar reações específicas.
“Viver com pessoas que diferem muito em rotinas, expectativas e reações provavelmente favoreceu os gatos que conseguem adaptar seus miados de forma flexível. Nossos resultados apoiam a ideia de que os miados evoluíram para uma ferramenta altamente adaptável para negociar a vida em um mundo dominado por humanos”, disse Mirjam Knörnschild, autora sênior e ecóloga comportamental do Museu de História Natural de Berlim, à revista Discover Magazine.
Por Revista Galileu