O romance “Lolita” foi escrito em 1953 e publicado dos anos depois, inicialmente na França. Nele, o escritor russo Vladimir Nabokov conta a história de um “amor” obsessivo de um professor de meia-idade por Dolores Haze, de 12 anos, filha de uma viúva com quem ele foi morar, o que gerou grande controvérsia e censura em diversos países. Na obra, Humbert se refere à menor como uma “ninfeta” e passa a chamá-la de Lolita.
Humbert visita muitas prostitutas como um jovem adulto, mas fica insatisfeito a menos que elas se assemelhem a uma “ninfeta”. Ele eventualmente casa com uma mulher polonesa chamada Valeria para dissipar suspeitas de hebefilia (o forte e persistente interesse sexual de um adulto em pré-adolescentes, tipicamente entre 11 e 14 anos). O casamento não dura muito, Humbert acaba migrando da Europa para os EUA, onde conhece Lolita e se funda numa rede de perversão e crime.
Esse cenário polêmico — mesmo para a época em que foi criado — fascinou o financista Jeffrey Epstein, líder de uma longa operação de tráfico sexual que incluía menores.
Imagens publicadas por congressistas dos EUA que investigam as ligações entre Epstein e várias figuras poderosas dos EUA e de outros países mostram que o magnata, morto em prisão de Nova York em 2019, tinha grande apreço pela obra de Nabokov.
Fotos mostraram trechos de “Lolita” escritos nos corpos de “convidadas” (não se sabe exatamente a idade delas) de Epstein, que chegou a ser acusado promover orgias para visitantes de suas propriedades, especialmente na mansão do magnata na ilha caribenha de Jeffrey Epstein, Little St. James. Uma das vítimas, a americana Virginia Giuffre, que acusou o príncipe Andrew de abuso sexual quando ela era menor, afirmou no seu livro póstumo que o membro da realeza britânica participou de uma “orgia” com ela e outras oito adolescentes. Segundo Virginia, o encontro com ela e as outras menores, que não falavam inglês, ocorreu em “Little Saint Jeff’s”, apelido da ilha de Epstein. A americana relatou que “não estava bem” após a “orgia” e que acordou “numa poça de sangue”, segundo um trecho da obra revelada pelo “Daily Mirror”. Ela disse que nenhum dos homens para quem foi traficada usava preservativo, embora não haja evidências que sugiram que Andrew fosse o pai do bebê que ela perdeu.
Entre as imagens recentemente divulgadas, algumas mostram citações de “Lolita” escritas à mão em partes de corpos femininos.
“Ela era Lo, simplesmente Lo, de manhã, com um metro e quarenta e sete de altura e usando apenas uma meia” está escrito num pé ao lado de um exemplar do livro de Nabokov.
Virginia mencionou em documentos judiciais que Andrew tinha um “fetiche por lamber pés”, e que o ato de podolatria foi realizado nela.
No colo de uma mulher que parece nua foi rabiscada a abertura do livro: “Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três passos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes”.
Outra citação num quadril aparece “Ela era Lola de calças”. Em outra foto se lê num pescoço “Ela era uma polly na escola” (polly é uma gíria que tanto pode ser usada para se referir a uma prostituta ou a uma menina otimista).
Não está claro que os trechos da obra foram escritos no corpo de uma mesma pessoa ou de várias.
Epstein já declarou que Nabokov era o seu escritor favorito. Em entrevista em 1987, o financista afirmou que mantinha exemplares de “Lolita” na mesa de cabeceira do seu quarto e no seu jatinho. Ele manifestou grande interesse pela vida do escritor.
Jatinho Lolita
A referência a Nabokov não estava apenas no estilo de vida e em corpos femininos. Epstein costumava viajar com a sua companheira e cúmplice do esquema de tráfico sexual, Ghislaine Maxwell, e figurões com quem tinha boa relação no seu jatinho particular. O nome dele? Lolita Express.
Foi no Lolita Express que o ex-presidente dos EUA Bill Clinton viajou ao Marrocos com Epstein e Ghislaine para a cerimônia de casamento do rei Mohammed VI, em 2002. O casal não havia sido convidado para o evento, mas Clinton usou a sua influência e insistiu com representantes da Família Reral marroquina que eles fossem, contou o “NY Post”.
“Clinton os levou como convidados para o casamento de um rei. Quer dizer, parece até invenção. Quantas vezes na sua vida você já foi convidado como convidado de um convidado para um casamento?”, disse uma fonte ao jornal de Nova York, acrescentando que o pedido foi considerado grosseiro por membros da própria equipe de Clinton e tem sido tema de discussão em círculos democratas por mais de duas décadas.
Por Extra