O samba tem um poder de encantar, resistir e marcar identidades, e no Acre ele encontrou Camile Castro uma artista que vem construindo sua trajetória de forma sólida e marcante. Desde muito nova, a cantora já mostrava afinidade com a música, tocando violão e cantando, mesmo com o instrumento maior que ela, e aos poucos construiu um caminho sólido dentro da cena musical local.
Na Semana do Samba, A GAZETA conversou com a artista, que é considerada um dos grandes nomes femininos do samba na Região Norte. Camile contou como sua relação com a música começou pelo universo da MPB, mas que o samba entrou de forma decisiva em sua carreira.

“Na verdade começou no MPB, além de ter começado muito precoce na música, eu tive que me profissionalizar muito nova. E nessas vivências de noite alguém tinha feito um pedido que era para tocar um samba, e como a noite te exige tocar outras coisas, eu tinha a música ‘Retalhos de Cetim’, um samba do Benito de Paula na ‘manga’. Naquele momento que eu iniciei essa música, um coral de gente começou a cantar junto, e aquilo me tocou tanto que eu comecei a aumentar o repertório de samba no meu MPB e, quando vi… já estava tomada pelo samba. E foi ele que me fez abrir várias oportunidades hoje”, lembra Camile.
A paixão pelo samba não só moldou o repertório de Camile, como também abriu portas importantes na carreira. Ela teve a chance de gravar no estúdio do produtor musical Bóris Farias, no Rio de Janeiro, e dividir experiências com grandes nomes do gênero.
“Cheguei a gravar músicas no Rio de Janeiro, no estúdio dele, com artistas consagrados do samba. Tive a honra de ter músicos na minha gravação como Mauro Diniz, que foi parceiro de composição de Arlindo Cruz, e muitos outros sambistas. Tive também a honra de ter Jota Moraes, gravando comigo, tendo arranjos dele no meu projeto. Ele é um músico e arranjador de grandes sucessos de sambistas como Alexandre Pires, Maria Rita e não somente sambistas, mas Ivan Lins, Caetano Veloso, Elis Regina, Gal Costa, Leila Pinheiro, Chico Buarque, Djavan”, conta.

Apesar do sucesso, Camile conta que enfrenta desafios típicos de mulheres no samba, principalmente no que diz respeito ao espaço e valorização artística. Ainda assim, ela mantém a determinação de levar sua música para o público.
“Os desafios envolvem espaço por ser mulher, valorização por quererem pagar melhor um cachê musical para um grupo de homens. Acredito que isso não aconteça só por aqui. Então, tem casas que fecharam portas por eu não querer aceitar a desvalorização. Fui umas das poucas mulheres que ainda conseguiu ter espaço em algumas casas com o samba, mas não sou a única sambista do estado. Falando em Acre, eu admiro muito o trabalho das moças do samba também”, disse a artista.

Para os novos artistas, Camile deixa uma mensagem de incentivo e respeito à tradição. “Honrem quem veio antes e acreditem no talento de vocês.”
E para fechar a conversa, a cantora revelou o samba que escolheria para representar o Dia Nacional do Samba, refletindo sua própria história e filosofia de vida.
“Hoje eu escolho a música, ‘Clareou’… A vida é pra quem sabe viver, procure aprender a arte, pra quando apanhar não se abater, ganhar e perder faz parte. Levante a cabeça, amigo, a vida não é tão ruim, no mundo a gente perde, mas nem sempre o jogo é assim… pra tudo tem um jeito, e se não teve jeito, ainda não chegou ao fim.”









